Em audiência pública, vice-reitora da Ufes repudia projeto Escola Sem Partido

19/06/2018 - 12:09  •  Atualizado 10/07/2018 12:53
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A vice-reitora Ethel Maciel, pró-reitores e diretores de Centros de Ensino da Ufes participaram nesta segunda-feira, 18, da audiência pública realizada na Câmara Municipal de Vitória para discutir o projeto de lei que propõe a implantação do projeto Escola Sem Partido nas escolas da rede pública municipal de ensino.

Na audiência, a vice-reitora manifestou a postura da Universidade Federal do Espírito Santo, contrária à proposta.

“Não há uma evidência científica de que há doutrinação nas escolas. Há uma suposta ideia de que há uma doutrinação político-partidária e há uma suposta doutrinação moral. Quais as evidências de que nos materiais didáticos há doutrinação? Qual estudo foi feito que indica que, nos planos pedagógicos, há doutrinação? Não há evidência de que isso acontece. Mas, o que mais nos preocupa é: quem vai julgar o que é doutrinação político-partidária ou doutrinação moral? Isso é absolutamente contrário à democracia, é a criminalização do trabalho docentes, e isso não podemos permitir”, afirmou.

Ethel Maciel destacou ainda a qualificação dos professores da rede pública municipal e a importância da escola na proteção das crianças contra o abuso sexual.

“Vitória é uma das capitais onde a qualificação dos professores é uma das melhores do Brasil. É um quadro altamente qualificado. Os dados sobre abuso sexual infantil em Vitória só existem por causa da escola. Os professores de Vitória são os principais responsáveis por proteger as crianças de suas famílias. Essa proposta tem como pressuposto proteger a criança da escola, mas nós queremos saber quem é que vai proteger a criança de sua família, porque 74% dos abusadores são membros de suas famílias. Isso é evidência científica, eu não ‘acho’ isso”. É a escola que se importa. A escola tem uma ideologia clara, que é a proteção da criança e do adolescente”, ressaltou.

A vice-reitora disse ainda que leis não podem ser construídas com base em crenças religiosas e políticas, e manifestou apoio aos professores: “Se vocês estivessem fazendo doutrinação de esquerda haveria pelo menos um vereador de esquerda aqui e nós não temos nenhum. Digo não à lei da mordaça, digo não a esse projeto de lei e não mudem nossas vidas sem evidências científicas”, finalizou.

A audiência contou com a presença dos vereadores Roberto Martins e Davi Esmael, autor do projeto. Segundo Esmael, a intenção do projeto é proibir a “doutrinação ideológica” de professores na sala de aula.

Segundo informações da Câmara de Vitória, os prazos de tramitação do projeto foram suspensos para que a matéria seja debatida.


Texto: Thereza Marinho
Foto: Paulo Souza