Estudo de pesquisadores da Ufes reforçam existência de matéria escura

20/06/2018 - 16:02  •  Atualizado 10/07/2018 12:53
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Um grupo de pesquisadores da Ufes demonstrou que hipóteses alternativas que negam a existência da misteriosa matéria escura não estão de acordo com as novas observações realizadas, as quais reforçam a necessidade da existência dessa substância para entendermos o funcionamento do universo. Para chegar a essa conclusão, eles utilizaram dados de última geração obtidos com uma combinação de telescópios espaciais e terrestres, analisando cuidadosamente a atuação da força gravitacional em galáxias e demonstrando que apenas a presença da matéria escura poderia explicar o seu comportamento.

Os resultados do trabalho, intilulado Absence of a fundamental acceleration scale in galaxies (Ausência de uma escala de aceleração fundamental em galáxias), foram publicados nesta segunda-feira, dia 18, na revista Nature Astronomy. O estudo é realizado pelos professores do Departamento de Física da Ufes, Davi Rodrigues e Valério Marra, com a colaboração de pesquisadores da Itália e do Irã.  

A matéria escura é um dos grandes mistérios investigados por cientistas. Embora não sejamos capazes de detectá-la diretamente, ela é usada para explicar diversos fenômenos observados no universo como, por exemplo, o movimento do gás em galáxias. As estrelas ali presentes não seriam capazes de gerar uma atração gravitacional suficiente para explicar o movimento do gás, e a solução proposta é a existência de uma matéria invisível, quase 10 vezes mais abundante que a matéria normal.

Lei da Gravidade

A principal hipótese usada por cientistas como alternativa à matéria escura prevê uma modificação da própria lei da gravidade, proposta por Isaac Newton há mais de 300 anos e refinada por Albert Einstein com a Relatividade Geral. Segundo esse modelo, a força da gravidade funciona de forma distinta em partes diferentes da galáxia, sendo mais intensa que o previsto por Newton e Einstein para regiões onde a gravidade seria, em princípio, muito fraca.

A equipe estudou cuidadosamente a distribuição de estrelas e o movimento do gás em quase 200 galáxias próximas à Via Láctea. Eles demonstraram que a proposta alternativa necessita de ajustes individuais de galáxia para galáxia, o que está em desacordo com o próprio modelo de modificação universal da gravidade.

“Essa é uma das evidências mais contundentes já encontradas para descartar as teorias alternativas à matéria escura”, diz o professor Davi Rodrigues, líder do estudo. Segundo ele, apenas algumas galáxias já seriam suficientes para desacreditar o modelo, mas a combinação de todas as 200 galáxias faz com que a probabilidade de que esta teoria esteja correta seja menor que 0.000000000000000000001%. “Apostar nessa teoria alternativa como ainda viável é uma das piores apostas que alguém pode imaginar hoje em dia”, afirma.

No entanto, o pesquisador ressalta que ainda há muito a descobrir sobre a natureza da matéria escura. Ainda que ela exista, não sabemos do que ela é feita. “Esperamos detectá-la diretamente em um laboratório, mas talvez ela seja bem diferente do que hoje imaginamos.”

 

Texto: Thereza Marinho, com informações da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB)