Pesquisadores investigam impactos de tempestade de granizo em manguezais

02/04/2018 - 18:54  •  Atualizado 11/04/2018 12:42
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Pesquisadores do Departamento de Oceanografia da Ufes publicaram um artigo na revista Science of The Total Environment, da editora Elsevier, a respeito de uma investigação sobre impactos de uma tempestade de granizo, ocorrida em 2016, nos manguezais dos estuários do rio Piraquê-Açu-Mirim, em Santa Cruz (Aracruz/ES). Imagens anteriores à tempestade mostraram que foram impactados cerca de 500 hectares (29% da área total) de florestas de manguezal, sendo que a recuperação das florestas, após 15 meses do evento climático, foi muito pequena ou nula. A pesquisa aponta também que as zonas úmidas brasileiras precisam, com urgência, de monitoramentos de longo prazo e ações para adaptação às mudanças climáticas, pois sua degradação leva à perda de serviços ecossistêmicos com valor econômico importante em zonas costeiras.

Os autores do estudo são o professor do Departamento de Oceanografia Ângelo Bernardino; o oceanólogo Ricardo Nogueira Servino; e o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal Luiz Eduardo de Oliveira Gomes.

“O artigo trata dos impactos causados pela tempestade de granizo, associada ao El Niño mais intenso do século, em manguezais. Evidenciamos no sistema estuarino do Piraquê-Açu-Mirim uma área de cerca de 500 hectares de manguezal impactado em duas principais regiões (Santa Rosa e Irajá). A região de Santa Rosa foi severamente impactada e não apresentou recuperação natural mesmo após 15 meses do evento. A principal espécie de árvore de mangue afetada foi o mangue-vermelho”, diz Ricardo Servino.

Morte de mangue

A tempestade de granizo teve rajadas de vento de mais de 100 km por hora e causou uma morte de manguezal inédita na região leste brasileira. “Para quantificar a escala do impacto e recuperação de curto prazo (15 meses), utilizamos imagens de satélite e amostragens de campo para avaliar mudanças na estrutura da floresta em áreas impactadas e de controle após a tempestade de granizo. As imagens de satélite revelaram morte de mangue em uma área de mais de 500 hectares, correspondendo a 29,3% da área total de floresta, que foi subitamente impactada após a tempestade”, explica o pesquisador.

De acordo com o artigo, as perdas econômicas na área de estudo que são provenientes dos serviços ecossistêmicos típicos do manguezal, como provimento de alimento, regulação climática, matéria-prima e berçários, são estimadas em pelo menos US$ 792.624,00 por ano. Segundo Ricardo, “essa é a primeira evidência de um impacto por evento climático extremo em manguezais no Brasil, que promovem subsistência econômica e ecológica única para populações costeiras. Nossos resultados revelam que existe urgência em monitoramentos de longo prazo e ações para adaptação às mudanças climáticas para as zonas úmidas no Brasil, e em fornecer estimativas amplas de valores ecossistêmicos associados a esses ecossistemas, visto que muitas áreas já estão sofrendo estresse crônico de impactos locais, secas e altas temperaturas”.

A pesquisa conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), por meio do Programa Ecológico de Longa Duração/PELD – Habitats Costeiros do Espírito Santo, sediado na Ufes.

O professor Angelo Bernardino comenta que "esse, provavelmente, foi o primeiro evento climático que teve seus efeitos ecológicos e econômicos estimados no estado do Espírito Santo. Sabemos que esses eventos trarão profundas modificações a ecossistemas naturais, muitas já em curso, e o governo do estado já vem se preparando para isso através do recém criado Centro de Estudos Climáticos do ES. Assim, acho que o governo através da Fapes está na direção certa para estudar e preparar os diversos setores capixabas para as mudanças á frente, e devemos dar especial atenção a ecossistemas costeiros pois populações especialmente vulneráveis a estas mudanças dependem dos recursos naturais e dos serviços ecossistêmicos existentes."

Para acessar o artigo, basta clicar no link https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2018.02.068

 

Texto: Letícia Nassar
Imagem:Elsevier
Edição: Thereza Marinho