Pó preto é tema de exposição fotográfica na Biblioteca Central

14/06/2019 - 16:46  •  Atualizado 17/06/2019 17:48
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Tendo como tema o minério de ferro que recai sobre as areias da praia de Camburi, em Vitória, a jornalista e fotógrafa Zélia Siqueira inaugura, nesta segunda-feira, 17, a mostra Quanto Vale ou é em pó, na Biblioteca Central, no campus de Goiabeiras. A abertura acontece às 19 horas, contando com a presença da artista e do curador da exposição, o francês radicado no Espírito Santo Gilbert Chaudanne. A entrada é gratuita.

Durante a abertura da exposição, o artista Emmanuel 7Linhas e o grupo Corpocêntrica executarão a performance Yemonjá de Minério. Já para o dia 25 de julho, está agendada uma visita dos alunos surdos da Escola Especial de Educação Oral e Auditiva, de Vitória.

A ideia da expositora é criar uma reflexão no público acerca da relação entre o meio ambiente e a emissão de poluentes de minério de ferro na atmosfera. “Esse produto é inalado pelos seres humanos e por outros animais. Além disso, há os impactos dessas partículas na baía de Vitória. Se o minério tem um valor que sobrepôs a vida humana, quanto vale a vida?”, questiona Zélia.

A fotógrafa, então, recorreu à linguagem fotográfica para expressar seus sentimentos, sensações, inquietações e indagações diante desse cenário. “São fotografias que primam por uma linguagem estética para exibir a estampa negra azulada na areia de Camburi, adentrando as águas do mar”, explica ela.

Para Zélia, suas obras não têm só a beleza estética, servindo, sobretudo, como um clamor pela vida: “A ideia é ressuscitar a urgência de falar daqueles que partiram por causa dos crimes ambientais, como em Mariana e em Brumadinho, e lembrar a probabilidade de novas ocorrências”.

O curador Chaudanne, que é pintor e escritor, vê a artista como alguém inquieta e observadora, que não deixa nada passar despercebido. “O bom fotógrafo é aquele que é capaz de ver a eternidade embutida no tempo, que pode ser lama ou flores. A artista Zélia Siqueira faz isso com muita agudez no olhar”, define ele.

Séries

As fotografias da exposição estão classificadas em séries. A primeira é a série azul, que apresenta obras que, segundo Chaudanne, parecem com algo abstrato e não natural. A série dois é composta de fotografias nas cores azul-cinza e ocre, percorridas com linhas que podem lembrar uma rede hidrográfica.

Já a série três apresenta um novo dado cromático, com o preto-branco ou o branco e prata com preto azulado, além de um homem que aparenta estar olhando para o escuro absoluto da noite. “O homem nasceu da noite? Ele olha para ela como sua mãe já indo embora?”, questiona o curador.

A série quatro remete ao poema A Terra Desolada, do poeta inglês T.S. Eliott, tratando do depois do luto, da desertificação, do renascimento da vegetação e das cores. “Aqui, vemos folhas, algumas nítidas, outras turvas, como se houvesse ainda um espaço para o princípio da incerteza de nossa compreensão do mundo. O céu também já aparece, e não só a terra”, explica.

“Penso que uma exposição desse tipo mostra que a fotografia não é fadada a um realismo, tipo de testemunho de alguma coisa, mas pode muito bem aceder a uma visão do mundo, tornando-se autorreferencial”, conclui Chaudanne.

A mostra Quanto Vale ou é em pó fica na Biblioteca Central até o dia 31 de julho. O público pode visitar a exposição de segunda a sexta-feira, das 7 às 21 horas, e aos sábados, das 7 às 13 horas.

 

Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho