Um estudo da Ufes, realizado no Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGEco), revela que os principais fatores para diferenças de salário nas cinco regiões brasileiras e em seus respectivos setores econômicos são escolaridade, formalização do trabalho (se a pessoa tem ou não carteira de trabalho assinada) e gênero. A escolaridade aparece como fator mais importante na análise geral brasileira (18,21%). Ou seja, quanto maior a escolaridade, maior será o salário do indivíduo. Em segundo lugar está a formalização, com 5,36%, enquanto o gênero aparece em terceiro, com 3,40%.
De autoria da pesquisadora Maria Gertrudes Delboni, a dissertação Desigualdade de Rendimentos no Brasil: uma decomposição a partir da PNADC utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), mensurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o ano de 2019.
Quando analisados os setores econômicos (primário, que consiste nas atividades agropecuárias e extrativistas; secundário, que abrange as indústrias; e o setor terciário, que engloba os serviços prestados comercialmente), a escolaridade se mantém no topo dos fatores responsáveis pela desigualdade de remuneração: 10,23% no setor primário, 13,84% no setor secundário e 17,93% no setor terciário. “Isso só reforça a importância de analisarmos a heterogeneidade entre setores econômicos”, declara a professora Mariana Fialho Ferreira, orientadora do estudo.
Segundo Delboni, sua pesquisa teve como objetivos identificar os fatores cruciais para o aumento da desigualdade salarial e realizar estimativas para compreender quais os impactos desses fatores. As estimativas revelam que homens recebem retornos financeiros consideravelmente superiores aos das mulheres. A maior discrepância pode ser observada no setor secundário da economia, no qual os homens receberam cerca de 55% a mais que as mulheres no período analisado.
“Até 2012 foi possível verificar que a desigualdade estava sendo reduzida e os principais estudos apontavam que a educação era o fator determinante para essa queda. Mas a partir de 2012, os índices de desigualdade voltaram a crescer. Diante desse contexto, a ideia da pesquisa foi entender quais são os fatores, ou seja, as justificativas para que o país seja tão desigual com relação ao rendimento”, explica Delboni.
Veja esta e outras pesquisas desenvolvidas pela Ufes no site da Revista Universidade.
Resultados
O Nordeste brasileiro se destaca como a região que possui a maior desigualdade salarial. Isso tem sido registrado historicamente pelo Índice de Gini, método utilizado para medir o grau de concentração de renda em um determinado grupo. Como fator determinante, destaca-se o grau de formalização nos setores primário e secundário da economia, com 12,48% e 12,51%, respectivamente. Já no setor terciário, o fator determinante é a educação, chegando a 16,20%.
Já os resultados da região Norte indicam que a formalização é responsável por explicar a maior parte da desigualdade nos setores primário (6,65%) e secundário da economia (12,37%). Em contrapartida, no setor terciário o destaque é a escolaridade, com 12,82%.
No Centro-Oeste, observa-se que no setor primário a escolaridade tem 9,56% de impacto sobre a desigualdade. Já no setor secundário, o fator sexo se destaca, revelando um percentual de 10,29%. No terciário, a escolaridade chega a 17,13%.
Em relação ao Sul e ao Sudeste do país, a escolaridade é o fator que mais explica a desigualdade de remuneração nos três setores econômicos. Na região Sul, a escolaridade alcança 9,19% no setor primário, 14,28% no setor secundário e 17,24% no setor terciário. Já no Sudeste, os dados que correspondem à escolaridade apontam 9,15% no setor primário, 16,43% referente ao secundário e 19,31% quanto ao terciário.
No Sudeste, a pesquisa aponta que o grau de formalização do trabalho nos setores primário e secundário foi o segundo fator predominante. Já no setor terciário, o segundo aspecto mais importante para explicar a desigualdade é o sexo, com 6,41%. “Isso evidencia a importância de políticas de equidade de gênero como fator relevante para reduzir a desigualdade salarial, uma vez que o setor de serviços corresponde à fatia mais expressiva da desigualdade entre setores, 66,28%”, detalha Delboni.
Texto: Ghenis Carlos (bolsista em projeto de Comunicação)
Foto: Pixabay
Edição: Sueli de Freitas e Leandro Reis