Laboratório da Ufes busca identificar amostras de bactéria que provocaram surto em creche

06/05/2019 - 17:58  •  Atualizado 08/05/2019 17:34
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O recente surto da bactéria Escherichia coli (E. coli) em uma creche em Vila Velha, que provocou a morte de uma criança, mobilizou forte investigação de grupos de pesquisa científica para solucionar a fonte deste caso inédito no Brasil. O Laboratório de Virologia e Gastroenterite Infecciosa da Ufes, atuante desde 2002 em estudos sobre causas bacterianas e virais de gastroenterite, é um dos responsáveis nesta busca.

A professora e pesquisadora do Departamento de Patologia da Ufes Liliana Spano explica que o Laboratório é encarregado de identificar quais são as amostras de E. coli que causam a doença e diferenciá-las daquelas bactérias que fazem parte do microbiota normal do intestino, chamadas E. coli comensais. “Após o isolamento e identificação das E. coli encontradas nas fezes das vítimas, a bactéria é enviada para nós, para que façamos a pesquisa dos genes de virulência e discriminemos se é o patotipo em questão”, esclarece Liliana.

Novas pesquisas científicas serão realizadas a partir da colaboração do Laboratório Central da Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Lacen/Sesa). “Depois de analisarmos as amostras, investigaremos a relação entre as estirpes da E. coli causadora do surto, para evidenciar se houve alguma alteração genética durante a disseminação entre os indivíduos infectados. Além disso, analisaremos se a estirpe que causou o surto é exclusiva do Brasil ou se está disseminada em outras partes do mundo”, contou a professora

Gravidade

De acordo com o Ministério da Saúde, o surto em Vila Velha foi o primeiro quadro da doença no Brasil com caso de morte, embora tenham ocorrido outros dois surtos anteriormente, em Minas Gerais e em Sergipe. O tipo de bactéria encontrado na creche possui diversos genes que favorecem sua adesão às células do intestino, alterando o funcionando normal do órgão. Além desses genes, a bactéria também possui aqueles que produzem toxinas de Shiga do tipo identificado pela sigla Stx2.

A professora alerta para a gravidade desta E. coli no trato intestinal de crianças: “Primeiramente, a toxicidade de Stx2 produzida pela bactéria do surto é superior à da toxina Stx1, por exemplo. E ainda, 75% dos casos graves ocorrem em crianças, porque elas apresentam uma abundância maior de receptores para a toxina nas células ou tecidos. Principalmente nas células dos vasos sanguíneos dos rins, intestino, sistema nervoso central e do pâncreas”, descreve a professora.

As consequências dessa evolução bacteriana podem levar a quadros como colite hemorrágica (sangramento intestinal), insuficiência renal, convulsões, hipertensão ou até a morte, como foi o caso do menino de dois anos que era aluno da creche. “Portanto, devemos considerar que o surto ocorrido na creche em Vila Velha era um ambiente favorecido por indivíduos que são os mais suscetíveis”, conclui Liliana.

Na foto, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas Caroline Guerrieri, que processou as amostras da bactéria do surto.

 

Texto: Laís Santana (estudante de Comunicação)
Edição: Lidia Neves e Thereza Marinho