Pesquisa da Ufes revela precariedade em edificações de bairros da Grande Vitória

30/01/2024 - 14:56  •  Atualizado 01/02/2024 14:54
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Um estudo desenvolvido pela equipe do projeto de extensão Arquitetura Social: metodologia de levantamento participativo para ATHIS (Assistência Técnica em Habitações de Interesse Social) na RMGV (Região Metropolitana da Grande Vitória) revelou precariedade em edificações autoconstruídas e em moradias originalmente formais (como conjuntos habitacionais) em regiões da Grande Vitória. A pesquisa mapeou informações socioespaciais que produzirão uma tecnologia de arquitetura social e de capacitação de agentes comunitários. Os dados serão disponibilizados em uma plataforma digital pública e replicável.

Professores e estudantes do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) e do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) formam a equipe do projeto, que contou com parcerias do Ateliê das Ideias e da Onze8, associação que presta assessoria técnica em habitação de interesse social. Como resultado inicial da ação, os extensionistas elaboraram uma metodologia de levantamento de dados sobre moradias precárias, mediante trabalho de campo, laudo técnico e levantamentos arquitetônico e fotográfico.

“Nossa intenção é demonstrar a importância da produção consistente de dados para a coordenação das ações de Athis”, explica a professora do DAU Clara Miranda, coordenadora da primeira fase do projeto.

Nas fotos, integrantes do projeto visitam edificações nos bairros contemplados pelo estudo.

Etapas

O estudo é dividido em cinco etapas: identificação das moradias; capacitação dos agentes e diagnóstico das unidades habitacionais; elaboração da plataforma digital em formato de mapa georreferenciado, abrangendo as habitações diagnosticadas; formulação de critérios de priorização das moradias, juntamente com as lideranças locais; e avaliação das ações.

Na primeira fase da pesquisa, finalizada em dezembro, foram identificadas 102 famílias, totalizando 301 moradores, com renda familiar entre zero e três salários-mínimos. As residências pesquisadas estão na região conhecida como Território do Bem, em Vitória, que engloba os bairros São Benedito, Da Penha, Engenharia, Jaburu, Gurigica, Itararé, Bonfim e Consolação; e em Central Carapina, na Serra.

Segundo os dados coletados nesta etapa, mais de 60% das famílias entrevistadas são chefiadas por mulheres; há presença de até três crianças em 51% das casas; e 69,7% das pessoas entrevistadas se autodeclaram pretas ou pardas. Dentre os respondentes, a maior parte adquiriu o imóvel por meio de contrato de compra e venda (16,7%) ou herança (14,7%).

Precariedade

Durante as visitas técnicas, a equipe do projeto observou aspectos como instalações hidráulicas e elétricas; esgotamento sanitário; problemas estruturais; situação no entorno imediato; e patologias em geral, como infiltrações, mofo, mau cheiro e circulação natural de ar.

Dentre os pontos mais precários das moradias, estão a cobertura; o conforto; as instalações elétricas; os banheiros; e as cozinhas. A lista de problemas inclui infiltrações; problemas estruturais nas lajes, pilares e escadas; ferragens expostas; paredes e pisos com revestimentos inadequados; divisórias e ventilação inadequados; iluminação deficitária; edificação atingida por vazamento de esgoto; ausência de banheiro ou cozinha; inadequação do espaço para pessoas idosas ou com deficiência; densidade por cômodo; e ausência de espaço para ampliação.

Miranda ressalta que foram encontradas também inadequações urbanas, como problemas de abastecimento de água e esgoto e de risco geológico. A professora cita como exemplo Central Carapina, onde foram observadas casas em áreas sujeitas a alagamentos e localizadas em fundos de vales.

Plataforma digital

A segunda fase do projeto teve início neste mês de janeiro e visa aprimorar o processo de coleta e armazenamento de dados, além de desenvolver as etapas de análise das informações e o site. Um dos aprimoramentos previstos é a migração para uma plataforma de código aberto (a primeira versão do aplicativo opera somente sob a plataforma Google).

A plataforma digital apresentará as habitações levantadas e diagnosticadas, contendo, ainda, a localização, os dados das condições de moradia e as informações socioeconômicas da população moradora, como número de habitantes, renda, faixa etária e escolaridade.

“O projeto prevê, também, processos e produtos tomados como Tecnologia Social (TS) no auxílio ao planejamento municipal, em atendimento à recomendação da Agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU) de dirigir as políticas públicas aos grupos mais vulneráveis”, afirma a professora do DAU Martha Campos, coordenadora da segunda etapa da ação.

O projeto de extensão Arquitetura Social: metodologia de levantamento participativo para ATHIS na RMGV é vinculado ao Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urbanismo (NAU/Ufes). Além de Miranda e Campos, a professora do DEE Thais Pedruzzi compõe a equipe de trabalho, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e da rede de bancos comunitários Desenvolver. O projeto faz parte da rede Athis e Extensão Universitária BrCidades.

 

Texto: Adriana Damasceno

Fotos: Divulgação

Edição: Leandro Reis