Após pouco mais de um ano ocupando a cadeira 5 da Academia Espírito-santense de Letras (AEL), a professora, pesquisadora e chefe do Departamento de História da Ufes, Adriana Campos, assume a primeira vice-presidência da AEL. A posse da nova diretoria, que tem na presidência o jornalista Jonas Reis, aconteceu no último dia 18. “Estou com muito gás para essa nova gestão. Como disse o Jonas Reis no seu discurso de posse, não é um presidente que vai conduzir a Academia, mas um colegiado”, afirmou a professora.
O plano de trabalho para o triênio 2026-2028 estabelece iniciativas de valorização e projeção de escritores do Espírito Santo no cenário nacional; uma maior aproximação da Academia com os povos originários do Estado e com os jovens da periferia que produzem literatura; além do fortalecimento da interlocução com a sociedade capixaba.
Na avaliação de Campos, um dos problemas vividos pelos escritores locais é a ausência de projeção em nível nacional. “Não nos colocam no mapa da literatura do Brasil. Isso acontece por falta de uma política agressiva do ponto de vista cultural”, afirmou a imortal da AEL, lembrando de “escritores de altíssima qualidade” como Bernadette Lyra (professora aposentada da Ufes), Ester Abreu (professora emérita da Ufes e ex-presidente da AEL) e Pedro Nunes, entre outras personalidades da literatura capixaba.
Ela conta que, entre os projetos para 2026, está a oferta da disciplina optativa História da Literatura, “com um corte capixaba”, na graduação de História da Ufes, o que já está sendo encaminhado junto ao Colegiado e ao Departamento do curso. “Nossa ideia é levar a Academia para dentro da Ufes por meio de uma disciplina que festeje nossos escritores vivos e os que nos deixaram, como Luiz Guilherme dos Santos Neves [falecido em 2024] e Renato Pacheco [falecido em 2004], que também foram professores da Ufes”, afirmou.
Destacando “o vínculo umbilical da Academia com a Universidade”, pois muitos dos membros da AEL são formados pela Ufes e outros são professores ou ex-professores da instituição, Campos adianta que a AEL quer repetir a experiência do projeto Oficina Literária – lançado em 1981 pela professora aposentada da Ufes Deny Gomes – com o envolvimento dos povos indígenas Tupiniquim e Guarani e dos quilombolas do Estado. “Temos muito respeito por esses povos, não vamos ensinar nada, mas agregar conhecimento. Queremos a produção dessas pessoas para publicação com selo da Academia pois, em geral, a cultura escrita [dos povos originários] não é tão conhecida. Será o encontro da Academia, que é tradicional e centenária, com esses povos ainda mais tradicionais e centenários”.
Festivais
A organização de festivais é mais um projeto da nova gestão. “A ideia é realizar o Festival de Literatura Nacional com premiações para chamar a atenção de escritores nacionais para nossa Academia e para o nosso Estado”, diz a professora. Também será promovido o Festival de Literatura da Periferia, na busca de um diálogo especialmente com o “jovem periférico que até teme a Academia”.
Outra proposta é trazer ao Espírito Santo pelo menos três personalidades da literatura: Mary Del Priore, com várias obras relacionadas à mulher; Ana Maria Gonçalves, autora do livro Um defeito de cor, que fala de uma negra escravizada; e Ailton Krenak, líder indígena membro da Academia Brasileira de Letras. “As escolhas [dos convidados] demarcam qual é a conversa que a gente quer ter nesses eventos”, resume a professora.
Professora emérita
A nova diretoria da AEL sucede o grupo liderado pela professora emérita da Ufes Ester Abreu, que ficou à frente da instituição por dois mandatos. “A professora Ester dispensa apresentações, mas sua trajetória acadêmica e cultural impõe reconhecimento público. Intelectual de sólida formação, professora universitária, pesquisadora, escritora e tradutora, ela reúne em sua trajetória aquilo que esta Academia melhor representa: a excelência do pensamento, o rigor do trabalho intelectual e o compromisso permanente com a vida cultural do Espírito Santo”, afirmou Campos durante a posse.
A solenidade de posse da nova diretoria contou com a presença dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, Luiz Carlos Ciciliotti e Sérgio Aboudib (também membro da Academia); da primeira dama do Estado, Maria Virgínia Casagrande; e do ex-governador Vítor Buaiz.
Fotos: Marcelo Pereira
Universidade Federal do Espírito Santo