Vestígios de animais localizados em sítios arqueológicos no sul do Brasil revelam modo de vida de povos ancestrais

29/05/2024 - 17:20  •  Atualizado 29/05/2024 17:38
Texto: Thiago Sobrinho     Edição: Thereza Marinho
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Foto do terreno e de árvores no Sambaqui Ilha dos Espinheiros II, localizado em Joinville.

Vestígios de animais localizados em sambaquis no litoral do sul do Brasil revelam detalhes do modo de vida de povos ancestrais que habitaram a região há mais de 4 mil anos. É o que aponta o estudo inédito Tetrapod biodiversity of sambaquis from southern Brazil (Biodiversidade de tetrápodes de sambaquis do sul do Brasil), que acaba de ser publicado nos Anais da Academia Brasileira de Ciências e produzido pelos pesquisadores da Ufes Augusto Mendes e Taissa Rodrigues.

Os sambaquis são sítios arqueológicos comuns no litoral brasileiro e os materiais analisados pela dupla de pesquisadores foram escavados do litoral do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Eles estavam depositados em reservas técnicas de museus e instituições, e foram comparados com coleções científicas disponíveis no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e da própria Ufes.

Segundo Augusto Mendes, a importância dessa pesquisa inédita é permitir um entendimento maior sobre a cultura dos povos sambaquieiros, também conhecidos como pescadores-caçadores-coletores que caçavam animais, e também conhecer a história dos povos que habitavam o litoral brasileiro antes da colonização.

“Existe mais história brasileira antes da chegada de Pedro Álvares Cabral do que depois dele”, afirma o pesquisador, que defendeu o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas.

“Além dessa questão, tem o fato desses dados de fauna do passado serem utilizados hoje, por exemplo, para termos um inventário mais completo possível das espécies que viviam no local. Ou seja, tanto dados de fauna do presente quanto do passado”, complementa.

Possibilidades

Para Taissa Rodrigues, professora do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, o ineditismo do trabalho pode fazer com que, no futuro, novos pesquisadores se interessem e trabalhem com o tema.

“Esse é o primeiro trabalho do departamento nessa área. Acho que abre uma janela de possibilidade. Quer dizer que, no futuro, outras pessoas podem, talvez, se dar conta de que existe uma área bem interessante a ser explorada do ponto de vista da biodiversidade, da distribuição das espécies, da anatomia, que, até então, não estava sendo devidamente explorada”, explica.

Ela ressalta que a publicação nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, caracterizada por ser uma revista multidisciplinar, pode ampliar o interesse para pesquisadores de outras áreas: "Como estamos discutindo uma biodiversidade passada, nós podemos, sim, atingir pessoas que trabalham com outras áreas. Zoólogos, por exemplo, que têm o interesse em saber como era a distribuição e a presença de certas espécies em outros lugares ao longo do tempo”.

Evolução

De acordo com Mendes, outra possibilidade do estudo recém-publicado é, a partir dos hábitos culturais dos povos sambaquieiros, permitir uma visão da distribuição evolutiva dos animais do passado. “Por exemplo, quando você identifica um animal em um sambaqui de 5 mil anos atrás, você sabe que há 5 mil anos aquele animal habitava aquela região”, exemplifica.

Um desses animais, conforme explica o pesquisador, é o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), que foi identificado em um sambaqui no litoral de Santa Catarina e que atualmente habita regiões interiores do estado.

“Outro exemplo é a baleia-franca-austral. Ela, antes, só tinha sido registrada para sambaquis de Santa Catarina. Com o nosso trabalho, passou a ser registrada também para o Paraná e o Rio Grande do Sul”, conclui.

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