Um novo estudo publicado na revista Frontiers in Ecology and Evolution forneceu informações importantes sobre os fatores ambientais e químicos que levaram à preservação única de fósseis de insetos da Formação Crato, um depósito paleontológico no nordeste brasileiro de renome mundial. A investigação, liderada por pesquisadores da Ufes com a colaboração de cientistas da Universidade de São Paulo, do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart e da Universidade de Tübingen, os dois últimos na Alemanha, investigou a forma como os insetos aquáticos e terrestres foram preservados neste depósito ao longo de milhões de anos.
Ao analisar mais de 230 espécies fósseis utilizando técnicas avançadas, como a microscopia eletrônica de varredura e a fluorescência de raios X de microenergia, os cientistas descobriram detalhes microscópicos sobre os processos que levaram ao estado excepcional dos fósseis do Crato. As descobertas mostram que eles foram preservados detalhadamente devido à substituição dos seus tecidos biológicos por óxidos de ferro após uma fase inicial de piritização, um processo ocasionado por reações químicas entre os organismos e o seu ambiente durante a fossilização. O estudo também confirma evidências anteriores de que tapetes microbianos desempenharam um papel na preservação fina de microestruturas nesses fósseis.
Boa preservação
Para comparação, os cientistas examinaram também fósseis de insetos fossilizados do depósito de Solnhofen (Alemanha), também conhecido mundialmente por seu valor paleontológico. Entretanto, enquanto os fósseis brasileiros mantiveram fielmente várias caraterísticas microscópicas, os espécimes alemães foram considerados mal preservados, sendo muitas vezes preservados apenas como impressões devido ao crescimento de minerais grosseiros.
“As nossas descobertas sugerem que, embora os paleoambientes desses dois locais tenham algumas semelhanças, a preservação dos insetos – particularmente das efêmeras – na Formação do Crato é muito superior à que vemos em Solnhofen”, explica Arianny Storari, egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Ufes e líder do estudo.
O estudo abre as portas para pesquisas futuras sobre processos de fossilização e oferece informações importantes sobre as condições que podem levar à preservação extraordinária da vida pretérita.
Fotos: Acervo da pesquisa