Nesta sexta-feira, 14, foi inaugurada a primeira fábrica de supressor de poeira à base de plástico PET, em Cariacica. O produto, desenvolvido pela Vale em parceria com a Ufes, evita a emissão de poeira, reduz o descarte de lixo e gera renda para catadores de material reciclável
Com cerca de 2,7 mil metros quadrados, a planta da Biosolvit possui capacidade instalada para consumir 70 toneladas de plástico por mês. Na fábrica, o plástico é triturado e passa por um processo de reciclagem química que o transforma em resina biodegradável, para ser aplicada em pilhas de minério de ferro e carvão, carregamentos de ferrovia e vias de acesso não pavimentadas, funcionando como uma uma película protetora que evita a emissão de poeira.
A produção de Cariacica será usada nas operações da Vale na Unidade Tubarão, em Vitória, e também no carregamento de vagões ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas e em algumas operações de Minas Gerais.
“A inauguração da fábrica nos permitirá ampliar a aplicação do supressor para todas as nossas operações em Tubarão e expandir para outras operações, ao longo da ferrovia e em Minas Gerais. Com eficácia comprovada, a fábrica completa uma importante fase deste belo projeto”, destaca o diretor de Pelotização e Briquetes da Vale, Rodrigo Ruggiero.
Para o reitor da Ufes, Eustaquio de Castro, é gratificante ver a concretização de mais esta etapa de um projeto que teve início há 10 anos, a partir de uma parceria entre a Vale e a universidade. "Este processo inovador nasceu dentro da Ufes, a partir de uma necessidade identificada e apresentada pela empresa. É um exemplo bem sucedido de como o conhecimento científico e a pesquisa acadêmica podem atuar junto com a iniciativa privada para proporcionar desenvolvimento econômico aliado a melhorias sociais e ambientais em benefício de toda a população", destaca.
Reciclagem
Mais que garantir a eficiência no controle ambiental, o supressor sustentável tem potencial para retirar do meio ambiente todos os meses mais de 1 milhão de garrafas PET para a produção no Espírito Santo, que deve chegar a 400 mil litros/mês em 2024. O número pode chegar a até 2 milhões de garrafas em 2026 por mês, com a expansão prevista para outras operações, que pode demandar 780 mil litros de supressor no total.
Além de garrafas PET transparentes e verdes, o processo de produção do supressor sustentável também é capaz de aproveitar outros materiais considerados de baixa reciclabilidade, como o plástico PET utilizado em bandejas e garrafas de todas as cores, como as pretas de bebidas energéticas, que hoje vão para os aterros sanitários.
O supressor de poeira é um controle ambiental comumente usado nas operações da empresa e pode ser feito de várias matérias-primas, como glicerina, mas a produção a partir da reciclagem do plástico é inédita e patenteada pela Vale e pela Ufes. Desde 2013, universidade e empresa realizaram testes e validações técnicas em escalas de laboratório e piloto que atestam a eficiência do produto.
A instalação da fábrica em Cariacica faz parte da estratégia da Vale para viabilizar a produção do supressor em larga escala, por meio do desenvolvimento de fornecedores parceiros com o sublicenciamento da patente. A expectativa é ampliar a operação da Biosolvit com a construção de uma fábrica em Minas Gerais, em local a ser definido por estudos técnicos. O investimento previsto é de cerca de R$ 30 milhões ao longo dos próximos anos.
“A Biosolvit tem grande orgulho em ter sido escolhida pela Vale como parceira estratégica para a produção do supressor sustentável. Esta cooperação eleva a empresa a um novo patamar, tanto sob a perspectiva social e econômica quanto em termos de capacidade de produção. Além dessa fábrica, estamos estudando a implantação de outra, em Minas Gerais. Ambas tendo como pilares a inovação, a sustentabilidade e o desenvolvimento social. Nossa projeção até 2026 é reciclar pelo menos 2 milhões de garrafas PET. Além disso, o uso do supressor evitará que partículas de minério de ferro e carvão se dissipem. A produção desta fábrica também contribuirá para o aumento da renda mensal de 580 catadores de recicláveis que fazem parte das associações instaladas na região da Grande Vitória. Isso é extremamente relevante para nós”, destaca o CEO da Biosolvit, Guilhermo Queiroz.
Benefícios para catadores
A maior parte do plástico utilizado para fazer o supressor sustentável será fornecida pelas associações de catadores de material reciclável da Grande Vitória. Como forma de colaborar com o fortalecimento dessas associações, a Vale desenvolveu o projeto Reciclo, que nos últimos anos realizou ações para melhorar a estrutura física, a gestão e a comercialização do material, além de incentivar a coleta seletiva em condomínios e empresas.
“Há muitos anos usamos supressores. E hoje compartilhamos com vocês uma importante evolução, que é a criação do supressor sustentável, fruto da nossa parceria com a Ufes. Ele é feito à base de plástico reciclado, portanto endereça um grande desafio ambiental, e também é capaz de transformar a vida de muitas pessoas, pois gera renda para os catadores de materiais recicláveis”, destaca a vice-presidente executiva de Sustentabilidade da Vale, Malu Paiva.
Ao todo, 580 pessoas, entre catadores e seus familiares, já foram beneficiadas pelas ações do Reciclo, realizadas com 12 associações em seis municípios do Espírito Santo. Mais de 60 mil pessoas passaram a contar com a coleta seletiva em condomínios e empresas, com 156 novos pontos instalados.
O projeto também propiciou o aumento da renda dos catadores em 56,7%, chegando à média de R$ 1.338,00 por pessoa. Isso foi possível a partir da articulação de parcerias com o ecossistema e do investimento de R$ 1,8 milhão em equipamentos, obras e capacitações, que possibilitaram o aumento da quantidade de material reciclável coletado, que em 2021 era de 168 toneladas por mês e chegou à média de 357 toneladas por mês este ano. O índice de PET coletado aumentou em 77% desde 2021, atingindo a média atual de quase 14 toneladas por mês.
O trabalho foi realizado em parceria com a Rede de Economia Solidária dos Catadores Unidos do Espírito Santo (Reunes), formada por associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis. "O que antes era descartado e ia pro aterro sanitário, hoje é aproveitado e gera prosperidade para muitas famílias”, afirma o presidente da Reunes, Lucio Heleno dos Santos.
Fotos: Gustavo Teixeira