O 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, constrói-se, historicamente, pela luta e resistência de mulheres em busca de melhores condições de vida e trabalho. A data não foi instituída a partir de um acontecimento único, mas de um cenário marcado por diferentes mobilizações de mulheres operárias do final do século XIX e início do século XX, que lutavam por condições menos degradantes de trabalho e participação na vida política. Tais acontecimentos trazem à tona o protagonismo das mulheres na luta por relações igualitárias de vida e trabalho, fazem-se presentes nas mobilizações do dia 8 de março e ressoam como desafio cotidiano.
Oito de março é, portanto, data de celebrar o protagonismo feminino e de somar forças no enfrentamento às diferentes formas de violência de gênero que incidem sobre os corpos e vidas das mulheres, tais como as desigualdades étnico-raciais, salariais e na ocupação de cargos de poder e daqueles de mais alto grau, a imposição de padrões estéticos, o machismo, entre outras. Ressaltamos, como um último grau dessas violências diversas, a triste realidade do feminicídio.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os homicídios dolosos de mulheres e os feminicídios tiveram crescimento no primeiro semestre de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019. Homicídios dolosos com vítimas mulheres apresentaram um crescimento de 1,5%. As vítimas de feminicídio passaram de 636 para 648, aumentando 1,9%. A situação se agrava ainda mais no caso das mulheres negras. Segundo o Anuário, em 2019, 66,6% das vítimas de feminicídio no Brasil eram negras.
De acordo com o Dossiê produzido pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), em 2020, o Brasil assumiu o primeiro lugar no ranking dos assassinatos de pessoas trans no mundo, com o número alarmante de 175 mulheres trans assassinadas só no ano passado. A média de ocorrências entre 2008 a 2020 foi de 122,5 assassinatos por ano. Em 2020, a taxa de homicídios foi 43,5% acima da média de assassinatos do período analisado. Ao se analisar o critério raça/etnia, a Antra alerta que 80% dos casos identificados ocorreram com mulheres trans e travestis negras.
No mundo do trabalho, as desigualdades relacionadas à questão de gênero se perpetuam. Diferenças salariais entre homens e mulheres que exercem as mesmas atividades laborais e reduzida representatividade em cargos de liderança são apenas alguns elementos dessa desigualdade.
Segundo estudo realizado pelo IBGE em 2019, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua demonstram que houve queda na desigualdade salarial entre 2008 e 2018, entretanto as mulheres ainda ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país. O estudo demonstrou ainda que as mulheres trabalham, em média, três horas por semana a mais que os homens ao considerar trabalho remunerado, afazeres domésticos e cuidados com familiares.
Na Ufes, grupos de pesquisas, comissões, coletivos e outras organizações, historicamente, vêm produzindo estudos e discussões acerca das questões de gênero, direitos das mulheres, combate à violência, discriminação e desigualdades. Dessa forma, a Universidade vem atuando para colocar a questão em evidência, para dimensionar sua abrangência e colaborar na construção de projetos e ações que auxiliem na superação desse problema que está enraizado na estrutura da organização social.
Em 2018, a instituição reuniu grupos e organizações da comunidade universitária e da sociedade civil para dialogarem na I Conferência de Ações Afirmativas da Ufes. Desse evento, resultou a elaboração de uma agenda de propostas formuladas na perspectiva de subsidiar a implementação de iniciativas que, ética e politicamente, fortaleçam o enfrentamento às desigualdades e violências de gênero que ressoam e se perpetuam na Universidade. No que tange às mulheres, as propostas apontaram caminhos a serem percorridos para garantir melhores condições de acesso, permanência, trabalho e produção de conhecimento das mulheres no meio acadêmico. Desde a construção dessa agenda de proposições, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) dialoga com os diferentes setores da Universidade, no sentido de dar materialidade às questões de gênero ali colocadas. Ao longo de 2020, de maneira remota em função pandemia ocasionada pela COVID-19, foram realizados momentos dialógicos e espaços formativos que oportunizaram o debate e reflexões sobre as questões de gênero no contexto da pandemia, e as singularidades dos impactos desse cenário mundial para a vida das mulheres.
Queremos que todas as mulheres tenham direito à vida, que sejam respeitadas e tenham assegurada a sua participação na universidade e em todos os espaços! Ainda há um longo caminho a se percorrer no enfrentamento às violências de gênero e para a construção de modos de organização de vida mais equânimes para as mulheres. A Universidade tem importante papel nessa construção.
Administração Central da Ufes