Manual orienta jornalistas a noticiar casos de importunação sexual contra mulheres

09/02/2023 - 12:32  •  Atualizado 13/02/2023 17:22
Compartilhe

Com o objetivo de facilitar a atuação de jornalistas na cobertura de casos que envolvem importunação sexual contra mulheres no transporte público, a estudante egressa do curso de Jornalismo da Ufes Camila Borges produziu o manual Elas no Ônibus: abordagem noticiosa da importunação sexual de mulheres. Derivado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à banca em agosto de 2022, o estudo tem como objetivo auxiliar profissionais da imprensa no trabalho de noticiar o crime, levando em consideração a responsabilidade social do jornalismo de conscientizar o público a respeito de leis de proteção às mulheres e dos meios para enfrentamento e denúncia de violências.

O guia surgiu a partir da pesquisa de Iniciação Científica (IC) intitulada Importunação sexual no ônibus: análise discursiva das notícias do G1, iniciada em setembro de 2021. “Na IC, investiguei se há um discurso crítico e político sendo produzido sobre esse corpo, que auxilia no combate à violência, ou um discurso que, no campo simbólico, corrobora a manutenção de opressões e desigualdades de gênero. Os resultados que encontrei enquanto elaborava este trabalho me compeliram a dar continuidade ao tema no meu TCC”, analisa Borges.

Panorama

O manual apresenta um panorama de como o crime de importunação sexual foi noticiado pelo portal de notícias G1 entre outubro de 2018 e dezembro de 2021, totalizando cerca de 70 matérias. O período foi escolhido em função da promulgação da Lei 13.718, em setembro de 2018, que tipifica o crime. Dentre outros pontos, o material explica quais são os melhores procedimentos éticos que o repórter deve seguir na cobertura de casos desse tipo; mostra exemplos considerados negativos, propondo boas práticas para a publicização de crimes dessa natureza; e traz relatos de mulheres que foram vítimas de importunação sexual nos ônibus que circulam na Grande Vitória.

Orientadora da pesquisa, a professora Patricia D’Abreu, do Departamento de Comunicação Social, explica que a ideia da pesquisa surgiu naturalmente, durante conversas realizadas no Grupo de Estudo e Observação sobre Mulheres na Mídia (GREMIO): “Camila foi aos poucos, de forma muito legítima, descobrindo seu objeto e sua questão de pesquisa. O trabalho dela mostra a importância da missão da Universidade pública em articular ensino, pesquisa e extensão. O resultado de todo esse belo processo aponta a importância da atuação do jornalista como tradutor de discursos especializados”.

Borges avalia que o discurso midiático pode ser eficaz na propagação de estereótipos, mas também tem o poder de operar como instrumento de superação. “Por meio deste trabalho pude visualizar a importância de o jornalista agir conscientemente em favor de práticas discursivas antissexistas. Um crime que afeta cotidianamente mulheres que utilizam transporte público no Brasil precisa ser noticiado corretamente”, conclui.

 

Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho