O aquecimento global acontece a passos largos e exige medidas urgentes. O assunto esteve em debate na Semana do Conhecimento nesta quinta-feira, 2. A palestra Mudanças climáticas: causas e consequências, organizada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), foi ministrada por José Marengo, climatologista, meteorologista e coordenador geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Os debatedores foram os professores da Ufes Neyval Reis Jr., do Departamento de Engenharia Ambiental e coordenador do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade, e José Eduardo Pezzopane, do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira, que funciona em Jerônimo Monteiro.
A partir de dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), produzido no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), Marengo demonstrou como a temperatura do planeta está aumentando, o que não pode ser atribuído apenas às mudanças naturais, mas sim a atividades humanas. Daí ocorrerem eventos extremos em todo o mundo, como ondas de calor, chuvas ou secas intensas, incêndios e outros desastres ambientais, aumentando o risco de crises hídricas e insegurança alimentar. “Independente se a população é rica ou pobre, todos serão afetados, mas os pobres sofrem as maiores consequências desses eventos extremos”, afirmou.
Dados do relatório
Segundo o pesquisador, “a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius [que seria o máximo tolerável] pode ser impossível”. Os principais resultados do relatório IPCC – o primeiro foi publicado em 1990 – revelam que a concentração de dióxido de carbono (CO2) é a mais alta em pelo menos dois milhões de anos; a elevação do nível do mar tem sido em taxas mais rápidas nos últimos três mil anos; a área de gelo do mar Ártico é a menor em mil anos e a retração das geleiras não tem precedentes nos dois mil últimos anos. “Em 31 anos de relatório do IPCC, temos mais observações acumuladas, o entendimento do sistema climático melhorou e a influência humana no aquecimento [do planeta] foi confirmada”, disse.
O pesquisador trouxe exemplos das ocorrências em São Paulo e Belo Horizonte ao longo deste ano, e também no Espírito Santo, em janeiro do ano passado. Chuvas acima da média, enxurradas, enchentes, deslizamentos e, ao mesmo tempo, seca e crise hídrica, o que mostra o desequilíbrio num país de dimensões continentais como o Brasil.
O painel da ONU apresentou cinco possibilidades de aumento da temperatura média da Terra até 2100. No melhor cenário, chamado de exemplar, as emissões de carbono seriam zeradas até o ano de 2050. Assim, o planeta fecharia o século com apenas 1,4 grau Celsius e aumento após um pico de 1,6 grau Celsius em 2060. Se puxarmos o freio até 2075, dá para fechar o século com 1,8 grau Celsius de aumento, abaixo dos 2 graus Celsius que são a meta do Acordo de Paris de 2015, num cenário considerado bom. Na pior das hipóteses, com as emissões de dióxido de carbono mais que dobrando até o fim deste século, a temperatura global pode atingir mais de 4,4 graus Celsius, o que seria o cenário chamado de péssimo.
Comissão estadual
Em sua intervenção como debatedor, Reis Jr. informou sobre a criação de uma comissão de mudanças climáticas no Espírito Santo, com o objetivo de elaborar um plano estadual de mudanças climáticas. O professor, que coordena o Instituto de Estudos Climáticos da Ufes, falou do trabalho desenvolvido com as autoridades estaduais responsáveis pela regulação dos recursos hídricos, visando auxiliá-las com dados dos relatórios do IPCC na tomada de decisões sobre o clima. Reis Jr. lembrou que o Espírito Santo está entre os estados que “aderiram à corrida para a neutralização das emissões de carbono até 2050”.
Já o professor Pezzopane destacou a importância da aplicação dos modelos regionais dos impactos de mudanças climáticas como uma ferramenta que gera informações importantes para serem trabalhadas localmente. Ele também falou da responsabilidade do Brasil como emissor de gases de efeito estufa em função do alto índice de desmatamento registrado aqui, assim como a responsabilidade do setor agropecuário/florestal em projetos para mitigar o aquecimento global.
A palestra está disponível na íntegra no canal Ufes Oficial no YouTube.
A Semana do Conhecimento da Ufes 2021 começou em 29 de novembro e segue até esta sexta, dia 3. O evento integra a Semana Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, que é organizada pela Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo (Sectides). Além do financiamento da própria Universidade, eventos da Semana do Conhecimento da Ufes contam com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Texto: Sueli de Freitas
Edição: Thereza Marinho