Servidora da Ufes recebe prêmio por estudo inovador na área da saúde ocular de crianças e adolescentes

13/06/2024 - 19:21  •  Atualizado 14/06/2024 19:59
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
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Foto da médica Júlia Polido com o prêmio recebido

A médica oftalmologista Júlia Polido, servidora da Diretoria de Atenção à Saúde (DAS/Ufes), foi reconhecida por seu trabalho pioneiro dedicado à saúde ocular de crianças e adolescentes com ceratocone (doença que afeta a córnea) e recebeu o primeiro lugar no Prêmio Mulher Arcelor Mittal. O prêmio busca valorizar mulheres empreendedoras que criam, desenvolvem e promovem iniciativas voltadas à transformação social, e este ano incluiu projetos dos estados do Espírito Santo, Ceará e Santa Catarina. Polido obteve o primeiro lugar em sua categoria, com o trabalho Implementação da Técnica Cirúrgica de Crosslinking em Crianças e Adolescentes com Ceratocone.

Segundo a médica, foi uma honra ser agraciada com a primeira colocação em um prêmio que promove a inovação e o crescimento científico liderado por mulheres, aumenta a visibilidade da causa e inspira futuras iniciativas inovadoras: “Receber um prêmio tão prestigiado foi uma experiência extremamente gratificante para mim, pois valida o impacto significativo do projeto na saúde ocular de crianças e adolescentes. Esse reconhecimento destaca a importância da minha contribuição”.

Inovação

Criada na Europa, a cirurgia de crosslinking é um procedimento oftalmológico inovador utilizado no tratamento do ceratocone, uma condição que, segundo Polido, é cada vez mais comum e tem caráter genético ou adquirido, na qual a córnea assume a forma cônica irregular, podendo levar o paciente ao astigmatismo, à miopia progressiva e, em casos graves, à necessidade de transplante e à cegueira. Ainda que a doença seja particularmente agressiva em crianças e adolescentes, o procedimento cirúrgico era, até então, realizado somente em adultos.

Em 2011, a médica passou a estudar a aplicação do crosslinking em crianças e adolescentes, e no ano passado defendeu sua tese de doutorado, na qual mostrou a viabilidade da realização da cirurgia neste público com segurança e eficácia. “A inovação foi comprovar que o crosslinking também era efetivo, seguro e eficaz em crianças e adolescentes, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e trazendo benefícios significativos para o sistema de saúde ao reduzir custos e diminuir a fila de transplantes de córnea”, avalia.

Os resultados do estudo foram transformados em dois artigos: Long-term Safety and Efficacy of Corneal Collagen Crosslinking in a Pediatric Group with Progressive Keratoconus: a 7-year Follow-up e Correlation between Placido-disc and rotating Scheimpflug keratometric findings before and after corneal crosslinking in children with keratoconus, que foram publicados nas revistas internacionais American Journal of Ophthalmology e Journal of Cataract and Refractive Surgery, respectivamente.

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Foto da médica realizando uma cirurgia em um paciente

Revolução

Durante a cirurgia do crosslinking, os médicos aplicam vitamina B2 (riboflavina) na superfície da córnea e, em seguida, a área é exposta a um laser com luz ultravioleta, criando ligações mais fortes entre as fibras de colágeno. Segundo ela, este processo fortalece a área, deixa a córnea mais resistente por meio do aumento da estabilidade, e impede a progressão do ceratocone. Polido diz que a técnica está revolucionando a medicina dos olhos e deve ficar cada vez mais acessível, possibilitando que pacientes que caminham para limitações visuais severas enxerguem bem por muito mais tempo.

Embora a intenção da cirurgia não seja propriamente a melhoria da visão, estudos apontam que até 25% dos pacientes que se submeteram ao procedimento tiveram evolução da capacidade visual. “Os resultados da cirurgia de crosslinking são animadores e os pacientes, em geral, conseguem estagnar ou reduzir bastante o avanço da doença. Os portadores de ceratocone em estágio leve ou moderado são os que colhem os melhores benefícios, embora até mesmo em estágios avançados o procedimento traga bons resultados”, explica.

Extensão

A servidora Júlia Polido é subcoordenadora do projeto de extensão Núcleo Avançado de Retina e Pesquisa em Oftalmologia (Narpo), que há cinco anos atua na gestão, no desenvolvimento e na implementação de projetos de extensão, pesquisa e ensino na área de Oftalmologia. Com equipe composta por professores, médicos e estudantes dos cursos de Medicina e Enfermagem, o Narpo promove e aprimora a atenção à saúde ocular aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), proporcionando assistência especializada a pacientes com doenças oftalmológicas do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam/Ufes) e da comunidade em geral. “Os mutirões e atendimentos já beneficiaram diretamente mais de 500 pessoas”, afirma ela.

O médico oftalmologista e professor do Departamento de Medicina Especializada (DME/Ufes) Thiago Cabral, coordenador do projeto, explica que o Narpo funciona como um núcleo guarda-chuva de outras ações extensionistas, fazendo a integração entre ensino, pesquisa e extensão. “O programa Narpo combina o conhecimento científico sólido, a experiência acadêmica em diversos segmentos da Oftalmologia e o trabalho coletivo de diferentes pessoas com interesses comuns, além da assistência à saúde da comunidade”, ressalta.

A equipe do Narpo realiza anualmente a Ação pelo Diabetes, mutirão de atendimentos oftalmológicos que visa identificar ou prevenir a retinopatia diabética, uma complicação ocular séria para pessoas com diagnóstico de diabetes. Os atendimentos acontecem sempre em novembro, no Ambulatório de Oftalmologia do Hucam.

Júlia Polido pretende lançar ainda este ano um novo projeto de extensão. Chamado Visão Jovem, a ação terá como objetivo detectar precocemente e tratar o ceratocone, proporcionando melhoria significativa na qualidade de vida dos jovens atendidos. “A expectativa é que o Visão Jovem beneficie aproximadamente 200 crianças e adolescentes por ano”, avalia ela, que coordena a fase inicial do projeto.

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