Outubro Rosa: câncer de mama mata mais mulheres negras no ES

31/10/2024 - 17:50  •  Atualizado 01/11/2024 09:28
Texto: Ghenis Carlos Silva (bolsista)     Edição: Sueli de Freitas e Thereza Marinho
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Foto de um exame de mamografia

No Espírito Santo, a mortalidade por câncer de mama é 60% maior entre as mulheres negras (pretas e pardas). É o que mostra uma pesquisa vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes (PPGSC) que investigou a sobrevida global das mulheres diagnosticadas com a doença que pauta a campanha do Outubro Rosa. Ao analisarem o contexto capixaba, os pesquisadores perceberam aumento crescente do número de casos entre os anos de 2000 e 2020.

O perfil predominante das pacientes diagnosticadas com câncer de mama no ES inclui mulheres encaminhadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com idade entre 41 e 60 anos, pardas, casadas, com ensino fundamental completo. Segundo a pesquisa, realizada pelo doutorando do PPGSC Raphael Pessanha, sob orientação do professor Luís Carlos Lopes-Júnior, a análise comprova que as desigualdades raciais dificultam o acesso a cuidados de saúde, o que pode incluir acesso tardio ao diagnóstico e a tratamentos adequados ou condições socioeconômicas que agravam a doença. 

O autor do estudo e explica os aspectos sociais desses resultados: "Esses resultados vão ao encontro da literatura científica internacional, a qual discute as disparidades e barreiras no acesso à saúde, como diagnósticos mais tardios, menor acesso a tratamentos de alta qualidade, além de condições socioeconômicas que podem impactar na saúde. Mulheres negras também podem enfrentar preconceitos no sistema de saúde, resultando em cuidados inadequados ou menos personalizados, o que pode agravar a situação”, detalha Pessanha.

Sobrevida

A pesquisa revela ainda que 82% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama possuem margem de sobrevida de ao menos cinco anos após o diagnóstico. Para Pessanha, esse número pode ser considerado um bom indicador de prognóstico, quando comparado a outras regiões do Brasil, mas também aponta a necessidade de continuar melhorando as condições de diagnóstico precoce e tratamento, especialmente para grupos de risco.

A análise de sobrevida é utilizada para avaliar a eficácia dos tratamentos e medir o impacto das políticas de saúde no quesito longevidade e qualidade de vida das pacientes. Esses estudos também podem revelar disparidades no tratamento e nos desfechos, permitindo que políticas sejam ajustadas para atender melhor às necessidades das pacientes. Até então, não havia estudos referentes à sobrevida das mulheres com câncer de mama no Espírito Santo.

“Dentro desse contexto de crescimento anual do número de casos, estudos como o nosso são essenciais para compreender e analisar o perfil sociodemográfico e as características da doença, bem como fatores associados à sobrevida. Uma análise detalhada como essa ajuda a identificar padrões de risco, entender a distribuição da doença e pode direcionar estratégias de intervenção mais eficazes no âmbito da rede de atenção oncológica do Espírito Santo. Além disso, o estudo contribui para o aprimoramento de políticas públicas voltadas para diagnóstico precoce, tratamento adequado e personalizado, e educação sobre prevenção e rastreamento”, declara Pessanha.

A pesquisa recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e contou com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), que forneceu os dados por meio da ação Vigilância do Câncer.

Foto: José Cruz - Agência Brasil

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