As teias de aranha são protagonistas em um estudo sobre poluição por microplásticos realizado pelo Laboratório de Biologia Costeira e Análise de Microplástico (LaBCAM) da Ufes, integrado ao Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análise de Petróleos (LabPetro). A pesquisa, realizada sob orientação da bióloga Mércia Costa, coordenadora do LaBCAM, utilizou as teias para captar as partículas do material na atmosfera e analisar os tipos e a quantidade de resíduos inalados diariamente. Amostras recolhidas revelaram uma quantidade significativa de microplásticos, demonstrando a eficiência das teias para a pesquisa, com um custo reduzido em comparação aos métodos convencionais.
Os pesquisadores selecionaram locais estratégicos no campus de Goiabeiras, considerando fatores como o entorno, a direção e a velocidade do vento. Foram definidos 30 pontos, sendo locais com mais e menos movimento de pessoas, utilizando um aplicativo para mapear as localizações. O resultado mostrou um total de 3.138 partículas encontradas em todas as amostras, indicando que 100% do ambiente estudado estava contaminado com microplásticos.
A pesquisa foi publicada na revista científica Journal of Hazardous Materials. A equipe que conduziu o estudo está em processo de obtenção de patente e se prepara para expandir o trabalho em níveis estadual e nacional, com o objetivo de entender onde os microplásticos atmosféricos estão chegando e quais são os mecanismos que a ciência pode usar para evitar a contaminação.
O que são microplásticos?
Os microplásticos são partículas menores que 0,5 milímetros. Pesquisas sobre o tema mostram que eles estão em placentas, sêmen e até no cérebro, causando problemas físicos e neurológicos. O LaBCAM é especializado em análises de microplásticos em diferentes ambientes, como na água, sedimentos de praia e tecidos de animais. Entretanto, esse foi o primeiro trabalho observando a atmosfera.
A inspiração para o estudo veio de uma pesquisa realizada na Alemanha. A abordagem econômica chamou a atenção dos pesquisadores capixabas e pode representar um avanço nos estudos sobre o tema, que geralmente depende de equipamentos caros.
“Essa abordagem, aplicada pela primeira vez no continente americano, é uma forma rápida e barata de biomonitoramento e pode ser usada para avaliar os riscos ecológicos e de saúde humana causados pelos microplásticos atmosféricos. Nosso estudo confirmou a importância das teias de aranha nessa abordagem e acreditamos que os resultados fornecem uma nova direção para a aplicação futura de teias de aranha em monitoramentos de microplásticos e para a implementação de legislação de proteção ambiental e regulamentação do lixo plástico”, dizem os pesquisadores no artigo publicado.
Além de Mércia Costa, participam do projeto professores, técnicos e estudantes de graduação, mestrado e doutorado da Ufes, da Universidade Tecnológica do Peru e da Universidade de Buenos Aires, na Argentina. São eles: Antônio Augusto Marins, Bruno Paqueli, Cristina Maria Sad, Daniel Motta, Enrique Ronald Ocaris, Felipe Caniçali, Gabriela Zamprogno, Gustavo Dalbó, João Marcos Schuab, Karina Menezes, Mariana Beatriz Otegui e Mateus Alves.
Foto: Acervo da pesquisa