Consciência Negra: engenheiro agrícola, Edney Vitória pesquisa o uso de drones na aplicação de defensivos e fertilizantes

14/11/2024 - 15:52  •  Atualizado 14/11/2024 17:41
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
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Foto do professor Edney Vitória em uma plantação

Dando continuidade à série especial de reportagens  que conta a trajetória e as pesquisas de professores negros da Universidade, em comemoração ao mês da Consciência Negra e em memória de Zumbi dos Palmares, o portal da Ufes apresenta o professor Edney Vitória. Engenheiro agrícola com doutorado na mesma área, ele tem como linha de pesquisa a mecanização agrícola, com ênfase em tecnologia de aplicação de defensivos e fertilizantes agrícolas por meio de aeronaves remotamente pilotadas (ARPs), popularmente conhecidas como drones.

Vitória é lotado no Centro Universitário Norte do Espírito Santos (Ceunes), no campus de São Mateus, onde a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) contabiliza 196 docentes. Dos 116 homens, 36 (31%) se autodeclaram negros.

O professor coordena o Núcleo de Estudos em Tecnologia de Aplicação Aérea por Meio de Aeronave Remotamente Pilotada (Nutarp), criado em 2020 como extensão do Laboratório de Mecanização e Defensivos Agrícolas (LMDA). Dentre os objetivos do LMDA está o desenvolvimento de pesquisas e atividades de ensino e extensão em tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes por meio de drones. “Desde que as ARPs pulverizadoras foram introduzidas no Brasil, uma série de questões ainda não foram totalmente investigadas. São questões que envolvem, por exemplo, taxa, faixa, rota e velocidade de aplicação, tamanho de gota, rendimento, custos operacionais, condições meteorológicas e riscos de deriva”, avalia.

Vitória também é pesquisador do Grupo de Pesquisa em Cafeicultura, no qual desenvolve técnicas para minimizar os impactos ao meio ambiente e para o homem na aplicação de defensivos agrícolas, por meio da utilização de ferramentas de inteligência artificial e tecnologia de drones.

Sonho

Foto do professor Edney Vitória em frente a um notebook, com um drone sobre a mesa

A vida acadêmica do professor teve início na antiga Escola Técnica do Espírito Santo (atual Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes), onde realizou o curso técnico de Estradas. Meses depois, cursou Engenharia Agrícola na Universidade Federal de Viçosa (UFV), tornando-se o primeiro da família a fazer um curso superior. “Meus pais me alertaram, pois não teriam condições financeiras de me manter em Viçosa, mas era meu sonho. Consegui ficar no alojamento estudantil, trabalhei no Restaurante Universitário para pagar as refeições e passei a dar aulas particulares de matemática e física para ter uma renda extra”, conta.

No terceiro período da graduação, conseguiu uma bolsa de iniciação científica: “Foi aí que decidi que o que queria da vida era ser professor, e ‘mirei’ na construção de um currículo para fazer mestrado e doutorado. Todo o esforço valeu a pena”. Professor universitário há 24 anos (14 deles na Ufes), Vitória ministra aulas no curso de graduação em Agronomia, no Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical (PPGat) e no recém aprovado Programa de Pós-Graduação em Ciências da Natureza, oferecendo as disciplinas Motores e máquinas agrícolas; Construções rurais; Tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas; Redes neurais aplicadas à agricultura; Metodologia científica; e Agricultura e sustentabilidade digital.

Ele acredita que ser um professor universitário negro no Brasil significa enfrentar um contexto de desigualdade racial persistente. “A representatividade ainda é limitada e, embora a educação superior tenha se tornado mais acessível, o racismo estrutural se reflete nas relações acadêmicas e no mercado de trabalho”, avalia ele, que é o atual coordenador do curso de bacharelado em Engenharia Agronômica e coordenou o PPGat entre 2018 e 2023.

O professor diz não enfrentar desafios relacionados à cor da pele na Ufes, mas, por atuar na área do agronegócio, “em que os grandes proprietários de terra são de famílias brancas”, sente o que ele chama de racismo velado. “Visito muitas grandes propriedades rurais e vejo a realidade: os donos brancos têm ao seu dispor pretos e pardos para fazer o serviço braçal. O que há de diferente da época da escravidão? Uma certa liberdade, remuneração baixa e relações de trabalho menos restritivas”, reflete.

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