Os resultados do segundo monitoramento do Projeto Viana Vacinada contra a covid-19 confirmam que a aplicação de meias doses da vacina AstraZeneca é capaz de induzir a produção de anticorpos da mesma forma que utilizando a dosagem padrão. O objetivo da pesquisa é identificar a eficiência das doses reduzidas na produção de anticorpos e células de defesa e na redução da incidência de novos casos da doença.
O projeto é coordenado pelo Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes), que faz parte da rede Ebserh de hospitais federais, em parceria com a Fiocruz, patrocinado pelo Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi) da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo, com o apoio da Organização Panamericana de Saúde (Opas) e do Ministério da Saúde.
De acordo com os dados apresentados ao Ministério da Saúde na última sexta-feira, 1º de outubro, após as duas doses no intervalo de oito semanas foram produzidos anticorpos neutralizantes em 99,8% dos participantes. Esses anticorpos atuam contra a proteína spike, IgG-S, que fica na superfície da célula e é responsável pela entrada do vírus. Foram analisados materiais de 572 pessoas entre os quase 20 mil moradores de Viana que participam do estudo.
Apesar de otimistas, os resultados ainda são parciais e necessitam de confirmação por segundo teste, bem como complementação com os dados de imunidade celular, que estão em andamento. O monitoramento terá continuidade, sendo a próxima coleta de sangue e a verificação de casos de covid previstas para os dias 13 e 14 de novembro.
“Uma análise conclusiva será apresentada em dezembro. Se esses resultados se confirmarem, a aplicação de meia dose de AstraZeneca poderá ser uma estratégia a ser adotada pelos governos. Em situações de epidemia e escassez de vacina, estudos como esse são de grande relevância”, afirmou a coordenadora do Projeto Viana Vacinada e professora de Medicina e do Programa de Saúde Coletiva da Ufes, Valéria Valim.
Segundo a professora, “nas próximas etapas serão realizados outros testes imunológicos, como a pesquisa de anticorpos neutralizantes por reação em placa (PRNT), testes de imunidade celular, biomarcadores, análise exploratória dos subgrupos por extratos de idade e níveis de anticorpos antes da vacina e incidência de casos novos”.
Estudos internacionais
Em agosto, cientistas de vários países se reuniram no evento Workshop on fractional doses para debater os estudos com doses reduzidas de diferentes tipos de vacina. Representando o Brasil, estava o projeto Viana Vacinada. Também foram apresentadas pesquisas que estão acontecendo na Inglaterra (Leiden University Medical Center), Bélgica (Sciensano), Tailândia (Mahidol University), África do Sul (South Africa Sisonke study) e Estados Unidos (Stanford University) com vacinas da AstraZeneca, Pfizer e Jansen.
Segundo Valéria Valim, nesse workshop, organizado pela The University of Chicago, que teve o objetivo de fomentar estudos com doses e estratégias alternativas para acelerar a vacinação no mundo, o projeto Viana Vacinada “ganhou destaque pelo grande tamanho e por estar em fase avançada, já com resultados parciais promissores”.
“Nossa pesquisa, desenvolvida por instituições públicas das três esferas, municipal, estadual e federal, mostra o potencial e a maturidade do Sistema Único de Saúde brasileiro, que está sendo capaz de enfrentar a pandemia, não apenas assistindo e vacinando a população, mas também, gerando inovação e soluções dessa pandemia de proporções mundiais”, afirmou a professora.
Texto: Sueli de Freitas
Foto: Unidade de Comunicação do Hucam-Ufes
Edição: Thereza Marinho