A engenheira civil Carla Miranda Fabris, que se formou pela Ufes, recebe, nesta quinta-feira, 14, o prêmio Leopold Müller, por sua tese de doutorado na área de geotecnia. A premiação é concedida à melhor tese anualmente, desde 1984, pela Sociedade Austríaca de Geomecânica (Österreichische Gesellschaft für Geomechanik). Uma tese por ano é premiada.
A tese, intitulada Estudo numérico de ancoragens em solo monitoradas com sensores de fibra óptica (no original em inglês, Numerical Study on Pullout tests of Ground Anchors Monitored with Fibre Optic Sensors), foi defendida em 2020, sob a orientação do professor Helmut Schweiger, na Universidade Tecnológica de Graz (Graz University of Technology), localizada no sudeste da Áustria.
Em seu trabalho, Carla Miranda Fabris desenvolveu modelos numéricos que permitem a simulação de ancoragens para a estabilização de taludes e encostas, usadas como elementos estruturais nesse tipo de obra da construção civil. Composta de um elemento de aço e uma cauda de cimento em volta, a ancoragem pode ter vários metros de comprimento e costuma ser instalada em rochas ou no solo. A simulação pode ser feita no software Plaxis, que é bastante usado em empresas desse setor em várias partes do mundo. Os resultados obtidos com os modelos numéricos eram então comparados com medições de campo, feitas com fibra óptica.
"Fizemos um monitoramento com fibra óptica ao longo de toda a ancoragem, a cada 1 centímetro. Normalmente, os monitoramentos são feitos apenas na 'cabeça' do tirante, o que faz com que nosso resultado detecte os movimentos de forma mais precisa. O monitoramento com fibra óptica permite otimizar o design da ancoragem, pois é possível visualizar qual o comprimento da ancoragem efetivamente mobilizado quando a estrutura é tracionada. A fibra óptica pode ser instalada apenas em ancoragens selecionadas, uma vez que é um material muito caro. Nesse sentido, os modelos numéricos além de contribuírem para a interpretação das medições de campo, permitem simular as estruturas que não são monitoradas com a fibra", explica a pesquisadora.
A partir do ensaio de campo, as simulações foram calibradas. "Conseguimos alcançar resultados bem próximos", afirma Carla Miranda Fabris. Com esse estudo, passa-se a conhecer melhor o comportamento das ancoragens quando tracionadas, o que torna possível evitar estruturas superdimensionadas, sem causar riscos à construção.
Formação na Ufes
O interesse de Carla Miranda Fabris pela geotecnia se iniciou ainda na graduação na Ufes. Em seu trabalho de conclusão de curso (TCC), orientado pelo professor Patrício Pires, do Departamento de Engenharia Civil, propôs o uso benéfico de sedimentos da dragagem do Porto de Vitória, que ocorria no período em que a estudante começou a pensar em seu TCC. "Muitas vezes esses materiais são contaminados e é preciso dar uma destinação adequada a eles", afirma Carla, que fez parte da pesquisa na França, em 2012, durante um programa de mobilidade internacional.
O professor Patrício Pires viu o interesse da estudante e a incentivou a ir além. "Motivei-a a fazer mestrado em outro lugar, para conhecer outras ideias, outra realidade. Apresentei-a à professora Maria Claudia Barbosa, que foi sua orientadora na Coppe [Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)], e só recebi elogios", completa o professor, que trabalha há dez anos na Ufes.
Em suas pesquisas, Pires procura estudar a destinação de resíduos, unificando conhecimentos de engenharia civil e meio físico (incluindo solo, rocha e água subterrânea, entre outros elementos). "O Espírito Santo produz muitos resíduos de mineração, rochas ornamentais, siderúgicas e mesmo da construção civil. Desenvolvemos pesquisas aplicadas para dar uma destinação a esses materiais que seja mais correta ambientalmente e interessante economicamente, produzindo materiais com características até melhores do que os naturais", detalha.
Uma das soluções já desenvolvidas e aplicadas pelo Professor Patrício Pires, que utiliza resíduos industriais, é o melhoramento de solos para fins de pavimentação, usado nas obras de duplicação da rodovia BR-101 no Espírito Santo. Outros projetos, em andamento, desenvolvem soluções ambientalmente corretas e economicamente viáveis para a construção civil – alguns deles são feitos em parceria com o Centro de Pesquisas da ArcelorMittal Tubarão.
Texto: Lidia Neves
Foto: Carla Miranda Fabris
Edição: Camila Fregona