Uma pesquisa do Laboratório de Telecomunicações da Ufes (LabTel) desenvolveu um curativo inteligente que consegue detectar o nível de pH (acidez) da lesão e indicar a eficiência do tratamento. A influência do pH no processo de cicatrização de feridas instiga a classe científica há alguns anos, mas a idealização dessa biotecnologia só foi possível com o avanço tecnológico das fibras ópticas e da fotônica.
A fibra óptica utilizada é constituída por uma matriz de polidimetilsiloxano (PDMS). A aplicação do corante (rodamina B) nesse material possibilita uma reação fluorescente quando entra em contato com o pH da lesão. Outra habilidade atribuída à bandagem é a de aferir a pressão, isso porque os sensores da fibra são sensíveis aos parâmetros físicos de pressão e tração.
“A alta flexibilidade da fibra PDMS permite sua incorporação em tecidos e curativos sem influenciar em sua rigidez. A fibra PDMS com corante é incorporada no tecido de uma gaze e em um curativo, criando esse curativo inteligente”, detalha o professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da Ufes e um dos pesquisadores responsáveis, Anselmo Frizera.
Com essa bandagem, será possível evitar o surgimento de feridas crônicas, que ocorrem quando uma lesão não recebe o curativo ideal ou quando a causa da ferida não é devidamente tratada, impedindo a restauração completa dos tecidos. Com três meses sem progressos na cicatrização, o machucado é tido como uma ferida crônica, podendo evoluir para um quadro de alto risco de mortalidade, como a de graves infecções generalizadas. Um exemplo dessa condição é a úlcera do pé diabético, que é uma das complicações da diabete mellitus.
Fotônica
A fotônica é uma área de estudo referente à luz e sua onda-partícula, o fóton. Os estudos se estendem para a compreensão de sua geração, detecção, manipulação, emissão, transmissão, modelagem, processamento de sinal, amplificação e sensoriamento. O fenômeno que possibilita a utilização das fibras ópticas é justamente a reflexão interna total da luz. A popularização e o rápido crescimento desta área científica têm estimulado pesquisas e sua aplicação em indústrias de construção civil, aeroespacial, biomédicas e outras.
“Os avanços nos estudos sobre polímeros permitem o desenvolvimento de novas fibras ópticas, construídas de diferentes materiais e com características importantes, como alta flexibilidade, biocompatibilidade e biodegradabilidade”, explica Frizera.
Segundo o pesquisador, o trabalho com sensores em fibras ópticas para aplicações biomédicas é o foco das pesquisas realizadas no LabTel há cerca de oito anos. Ele aponta que o próximo passo da pesquisa é a realização de ensaios clínicos e avaliação de outros parâmetros, como o de atividade bacteriana. “Seguiremos trabalhando no desenvolvimento de sensores para monitoramento de parâmetros físicos e fisiológicos aplicados ao estudo do comportamento humano e de tecidos inteligentes”, destaca ele.
Financiamento e parcerias
Além de Frizera, o estudo conta com a contribuição científica do pesquisador Arnaldo Leal-Junior, que também atua como professor do PPGEE da Ufes. O estudo foi realizado em parceria com a Universidade de Aveiro, em Portugal, a Beihang University e a Beijing Normal University, na China, e contou com o financiamento da Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (Fapes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da National natural Science Foundation of China e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), de Portugal.
Texto: Ghenis Carlos Silva (bolsista em projeto de Comunicação)
Imagem: Freepik
Edição: Thereza Marinho