Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes (PPGSC) comprovou a efetividade da Consulta de Enfermagem Motivacional (CEM) no tratamento de pacientes alcoolistas. De autoria de Lucas Queiroz Subrinho, sob orientação dos professores Marluce Siqueira e Marcos Vinícius dos Santos, a tese de doutorado Consulta de Enfermagem Motivacional com Alcoolistas: o cuidado no processo de mudança evidenciou a redução no consumo pesado de bebidas alcoólicas (seis ou mais doses em uma ocasião) e no padrão dos dias de consumo. Além disso, os sintomas de depressão e estresse também diminuíram após um ciclo de cinco atendimentos.
“Nós, profissionais da saúde, temos um desejo nato de ajudar o outro que nos procura. Quando [a ajuda] envolve mudança de comportamento, requer habilidades de comunicação. Nosso estudo apresenta uma maneira de promover uma conversa colaborativa para tornar os enfermeiros mais eficazes em guiar o usuário no processo de mudança, e demonstra resultados positivos do cuidar ‘com’ o outro no âmbito da saúde”, afirmou o pesquisador Subrinho.
Coleta de dados
A coleta de dados para a pesquisa foi iniciada em fevereiro de 2023, após a construção do protocolo de intervenção, aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam/Ufes), treinamento da equipe de pesquisa e integração com os membros do Programa de Atenção ao Alcoolista do Hucam (PAA/Hucam/Ufes). O PAA possui uma atuação voltada à integralidade do cuidado ao alcoolista por uma equipe multiprofissional.
Em 2023, foram realizadas 390 Consultas de Enfermagem Motivacional (CEM) com usuários do PAA/Hucam/Ufes. Dessas, 190 foram monitoradas pelo estudo, sendo que 21 usuários participaram das cinco CEM no período de 90 dias. A média de idade aproximada foi de 52 anos (10,9%), oscilando de 33 a 79 anos. Prevaleceram os do sexo masculino (85,7%), sem companheiros/as (52,4%), com escolaridade de ensino médio (42,9%), com filhos (76,2%), e renda de menos de um salário mínimo (38,1%). Quanto aos hábitos de vida, as características de saúde e a prática de alguma atividade física foi referida por 52,4% dos participantes, e a doença com maior prevalência de forma autorreferida foi algum transtorno psiquiátrico (45,0%).
As mudanças de comportamento foram avaliadas em três momentos: antes da primeira consulta, no dia da terceira e após a quinta consulta motivacional. Os usuários responderam questionários compostos de variáveis de padrão de consumo de bebidas alcoólicas, sintomas de ansiedade, depressão e estresse, nível de dependência, mudança percebida e prontidão para mudança.
Para os usuários que iniciaram o acompanhamento, tirar o pensamento de beber da cabeça era muitas vezes (20,63%) ou sempre difícil (15,8%) e trazia consequências na rotina, como deixar de comer (52,38%) e planejar o dia em função da bebida (50,0%).
A aplicação dos métodos da CEM – que promove um estilo de comunicação colaborativo, para fortalecer a motivação pessoal por meio do estabelecimento de vínculo, objetivo, razões e planejamento – em 90 dias foi bastante positiva para a mudança de comportamento no consumo de bebidas alcoólicas. O consumo pesado (seis ou mais doses em uma ocasião) e o padrão dos dias de consumo foram reduzidos. Além disso, os sintomas de depressão e estresse também diminuíram.
Além de ser uma ferramenta para o tratamento de dependência de álcool, a CEM é uma alternativa de baixo custo, podendo reduzir os impactos econômicos do consumo de álcool no Sistema de Saúde e de Seguridade Social.
O atendimento é oferecido gratuitamente no PAA/Hucam/Ufes, no campus de Maruípe.
O estudo teve apoio do projeto de Boas Práticas em Saúde Mental do Governo do Estado do Espírito Santo.
Imagem: Gerd Altmann - Pixabay