Programa de extensão promove tratamento humanizado a pessoas com sofrimento psíquico

04/03/2021 - 16:11  •  Atualizado 08/03/2021 14:32
Compartilhe

Atuando há 37 anos no tratamento humanizado de pessoas acometidas por sofrimento psíquico, o programa Cada doido com sua mania (CDSM) abre a série de reportagens sobre as ações extensionistas promovidas pela Ufes, por meio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex). A ação atende crianças, adolescentes e adultos com queixas em saúde mental, encaminhadas por instituições ou escolas públicas da Grande Vitória, e membros da comunidade universitária e seus dependentes, por busca espontânea ou encaminhados pela Diretoria de Atenção à Saúde da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (DAS/Progep). O CDSM foi um dos 26 finalistas da edição de 2020 do Prêmio de Mérito Extensionista Maria Filina.

Cerca de 20 membros compõem o programa, entre professoras, psicólogos e estudantes da Ufes e de outras instituições, que prestam atendimento no Centro de Atenção Continuada à Infância, Adolescência e Adulto (Cacia), sediado no campus de Maruípe. O CDSM tem como objetivos proporcionar atendimento à população em situações de adoecimento, conflito e angústia, que podem interferir no bem-estar em níveis individual, familiar, social e institucional; restabelecer na sociedade cidadãos mais saudáveis; e organizar dados que registrem e possam colaborar com o conhecimento e a pesquisa em saúde mental. A coordenação do programa estima que já foram atendidas entre 4.800 e 5.000 pessoas nesses quase 40 anos de atividade.

O atendimento é feito de maneira individual ou em grupo, permitindo um tratamento em saúde mental humanizado, com projeto singular construído para cada paciente. Além disso, o CDSM possibilita a capacitação de profissionais e prepara estudantes para a prática clínica por meio de supervisões, reuniões administrativas semanais e grupos de estudos coordenados por professores e profissionais atuantes, que fornecem as bases teóricas, promovem interação e favorecem a criação de novas formas de atuar no programa. “Nossa equipe busca produzir mudanças qualitativas no desenvolvimento do profissional em formação e acolher uma população carente de serviços na rede de saúde pública. Os pacientes e seus familiares relatam diminuição dos sintomas, maior autonomia e melhora na qualidade de vida”, analisa a professora do Departamento de Psicologia Lilian Margotto, coordenadora do programa.

Passos

O programa atua seguindo seis passos: acolhimento; referenciamento; projeto terapêutico individual; atendimento psicoterapêutico individual e familiar; atendimento psicofarmacológico; e oficinas terapêuticas. O acolhimento é a porta de entrada para o tratamento, realizado a partir de entrevistas com o objetivo de escutar a demanda do paciente. Durante o referenciamento, é feito um acompanhamento do percurso do indivíduo, do início até a alta, com anamnese e exame psíquico.

Após essa etapa, o paciente é encaminhado para a oficina terapêutica, que pode ser de música, produção de pinturas e mosaicos, levando-se em consideração questões como a faixa etária e as queixas relatadas. “As oficinas possibilitam que os participantes entrem em contato com seus desejos e suas angústias por meios diferentes, que atuam como intermediários para facilitar a expressão dos afetos”, explica a professora.

Aos pacientes que necessitam do uso de medicamentos como auxiliar no tratamento, o CDSM oferece atendimento psicofarmacológico, que é considerado a partir da análise do caso clínico efetuada pela equipe, sob supervisão da psiquiatra e professora aposentada da Ufes Tânia Prates, subcoordenadora do programa, que atua como voluntária.

Segundo Lilian Margotto, é comum que estudantes de outras instituições de ensino superior se voluntariem para participar do programa, atuando como extensionistas. “Nós temos tido experiências muito positivas com esses estudantes também, por eles já conhecerem a história do programa, seu funcionamento orientado na autogestão e horizontalidade e pela possibilidade de participarem de grupos de estudo, recebendo orientações de profissionais com ampla experiência”, relata.

Pandemia

Desde meados de março de 2020, quando a Ufes suspendeu suas atividades presenciais em virtude da pandemia da COVID-19, os atendimentos do programa CDSM passaram a ser efetuados de maneira remota. Lilian Margotto conta que essa alteração trouxe inúmeros problemas que dificultaram substancialmente a realização das sessões, sobretudo com crianças. “Dado o perfil sociológico da clientela (famílias de poucos recursos), novos impeditivos se apresentaram, como conexão à internet, privacidade e ausência de ruídos. Tudo isso dificultou e até impediu a continuidade de alguns atendimentos”, analisa.

Mesmo após quase um ano de isolamento social, a coordenadora diz que esses impasses ainda não foram solucionados.

Histórico

O programa de extensão Cada doido com sua mania começou em 1984, como um projeto proposto e coordenado pela então professora do Departamento de Psicologia da Ufes Tânia Prates, no antigo Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, em Cariacica. A proposta inicial era proporcionar atendimento em grupos operativos, com pacientes psicóticos internados.

Com a Reforma Psiquiátrica e a consequente alteração no funcionamento do Hospital, as atividades do CDSM também foram modificadas para atender às novas demandas que foram surgindo em saúde mental.

De 1995 a 1998, o CDSM participou da implantação e da estruturação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do estado, o CAPS Ilha de Santa Maria, em Vitória, e, em 1996, fez parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (Semus). Entre 2002 e 2003, o programa atuou de forma decisiva na criação e na estruturação dos ambulatórios em saúde mental para crianças e adolescentes do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), na capital, e do Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vila Velha.

Em 2005, o CDSM estruturou seu polo prático, o Cacia, onde passou a realizar os atendimentos psicoterapêuticos. De acordo com a coordenadora, o espaço está aguardando uma reforma para dar continuidade aos tratamentos.

Os interessados em conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido pela equipe interdisciplinar do Cada doido com sua mania podem visitar a página do programa de extensão no Facebook.

 

Texto: Adriana Damasceno
Imagem: Projeto Cada doido com sua mania - Divulgação (foto de antes da pandemia)
Edição: Thereza Marinho