Seminário de Inclusão no Ensino Superior registra mais de 3 mil acessos. Veja balanço

05/10/2021 - 18:31  •  Atualizado 01/11/2022 09:19
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Quatro dias dedicados ao debate sobre inclusão na Universidade, registrando mais de 3 mil visualizações. Assim foi o I Seminário Ufes de Inclusão no Ensino Superior: acesso e permanência de estudantes com deficiência, realizado de 28 de setembro a 1º de outubro, em comemoração aos dez anos de existência do Núcleo de Acessibilidade da Ufes (Naufes), que integra a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci). A promoção do evento contou com a parceria da Reitoria, da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e da Superintendência de Educação a Distância (Sead) da Universidade.

Na abertura do evento, o reitor da Ufes, Paulo Vargas, destacou que a acessibilidade, um direito previsto na legislação brasileira, ainda é um desafio para a sociedade e, particularmente, para as instituições federais de ensino superior. “Ao longo desses dez anos, o Naufes tem sido responsável por ações para promover transformações por meio de atitudes inclusivas. Este seminário consolida a indispensável agenda da acessibilidade como prioridade institucional”, afirmou o reitor.

Vargas lembrou que o respeito às pessoas com deficiência no ambiente acadêmico se traduz na execução de ações que atendam às necessidades multifatoriais de forma a alcançar toda a coletividade. “O respeito à pessoa com deficiência pressupõe assegurar dignidade e cidadania com plenas condições para o desenvolvimento de todas as habilidades e potencialidades do indivíduo”, declarou.

Para o reitor, as instituições federais de ensino superior vêm conseguindo, nas últimas duas décadas, alterar o perfil social e econômico dos estudantes a partir de ações afirmativas inclusivas de ingresso e permanência. "Ações essas muitas vezes dificultadas por uma série de restrições de natureza orçamentária, decorrentes da ausência de investimentos da esfera federal”, disse. Ainda assim, continuou, “estamos alcançando avanços”.

Vargas lembrou que o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Ufes destaca a posição afirmativa que a instituição deve adotar no contexto dessa política de acessibilidade. Ele defendeu uma agenda institucional garantindo acessibilidade sob os aspectos atitudinal, arquitetônico, de métodos e programas acadêmicos, de natureza instrumental, digital e de comunicação.

Desafio institucional

O pró-reitor de Assuntos Estudantis e Cidadania, Gustavo Forde, destacou que o ano de 2021, além da comemoração dos dez anos do Naufes, ficará marcado pela conclusão do novo PDI, que traz a acessibilidade como um dos desafios institucionais. “Nessa condição, transversaliza as cinco áreas estratégicas: ensino, pesquisa, extensão, assistência e gestão”, afirmou o pró-reitor. Na sua avaliação, esse é o momento de toda a comunidade universitária avaliar o que foi a década passada e planejar a futura. “Esse desafio é tudo, menos coisa simples", disse, convocando professores, técnicos, estudantes e a sociedade em geral a assumirem a política de acessibilidade.

Forde também lembrou que, em 2022, a Lei nº 12.711, popularmente conhecida como a Lei das Cotas, poderá ser revista. "É inconteste que, a partir dessa lei, tivemos um incremento significativo na presença de pessoas com deficiência na universidade brasileira. É importante que nós, enquanto comunidade universitária, estejamos acompanhando esse processo de revisão das cotas”, concluiu, reafirmando que essa lei é uma das principais políticas públicas de democratização no acesso ao ensino superior.

A coordenadora do Naufes, Déborath Provetti, falou das várias ações integradas desenvolvidas ao longo desses dez anos com intuito de pensar o espaço universitário de forma a garantir o acesso e a permanência dos estudantes com deficiência. “Acolher as diferenças é fundamental”, afirmou. Ela destacou, além da trajetória do Naufes, o avanço de constar a política de inclusão no PDI da Universidade. “Nosso PDI traz em sua missão o compromisso com os direitos humanos e a inclusão de todas as pessoas. Assim, teremos uma década promissora de inclusão e acolhimento”, salientou. 

Conferência de abertura

A doutora em Educação e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Márcia Denise Pletsch foi a convidada para ministrar a conferência de abertura abordando o tema Acessibilidade e Desenho Universal na Aprendizagem. Segundo a pesquisadora, a acessibilidade deve ser entendida como um dos princípios dos direitos humanos. Ela lembra que, de acordo com o último Censo, realizado em 2010, 24% da população brasileira tem algum tipo de deficiência, mas apenas 0,5% das matrículas gerais do ensino superior no Brasil são de pessoas com deficiência. “Na educação superior, só tivemos ampliação [no acesso de pessoas com deficiências] a partir da lei de cotas, que foi uma iniciativa primordial de inclusão”, afirmou.

Os avanços legais nos direitos sociais e educacionais para as pessoas com deficiência, ressalta a professora, estão articulados a avanços epistemológicos e científicos; uma mudança, inclusive, de compreensão sobre o que é a deficiência. Márcia Pletsch destacou que o conceito de acessibilidade engloba várias dimensões: digital, comunicacional, intelectual, cognitiva.

Sobre o conceito de desenho universal na aprendizagem (DUA) na educação superior, a pesquisadora explicou que o foco deixou de ser na diferenciação do ensino, privilegiando a diversificação das estratégias usadas em sala de aula. "Reconhecer a diversidade é a riqueza, não um problema como era antigamente", afirmou ela, enfatizando que respeitar a pluralidade é oferecer o mesmo conteúdo com recursos alternativos, proporcionando diferentes formas de apropriação dos conteúdos e vários meios de engajamentos por parte dos estudantes. O DUA, portanto, perpassa o planejamento, a estratégia de ensino e a forma de avaliação em sala de aula, sendo necessário levar em conta a acessibilidade e a usabilidade dos recursos propostos.

Oficinas e mesa-redonda

No dia 29, aconteceram as oficinas Estratégias de acessibilidade no ensino superior para estudantes com deficiência visual, Estratégias de acessibilidade no ensino superior para estudantes com deficiência auditiva e Estratégias de acessibilidade no ensino superior para estudantes com deficiência física.

A mesa-redonda Encontro de Gestores do Núcleo de Acessibilidade - 10 anos do Naufes, realizada no dia 30, recebeu o professor Francisco Ricardo Melo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que relatou a experiência daquela instituição em relação à política de inclusão. A mesa também reuniu os ex-coordenadores do Naufes Reginaldo Célio Sobrinho (2011-2014); César Cunha (2015-2017); Felipe Salcides (mar/2020-ago/2020) e a atual coordenadora, Déborah Provetti, que assumiu o Núcleo em setembro do ano passado. Também participaram da mesa as professoras que atuam no Naufes Aline Bregonci (Alegre) e Isabel Nunes (São Mateus).

O professor do Departamento de Educação da Ufes Reginaldo Célio Sobrinho, primeiro coordenador do Naufes, falou de um tempo de muito otimismo e atuação institucional, quando a Universidade estava começando a estruturar o trabalho do Núcleo. Ele destacou a presença da Administração Central na introdução da política de acessibilidade, “o que faz muita diferença”. Segundo o professor, toda a equipe estava engajada em entender como fazer a acessibilidade no ensino superior. “Trabalhamos pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Nossa atuação era orientada para que o espaço não se tornasse a ‘salinha’ da educação especial; para que o Naufes se configurasse como lugar de estudo sistemático e de pesquisa sobre inclusão no ensino superior; um espaço colaborativo, de elaboração, acompanhamento e avaliação da política de acessibilidade implantada na Universidade”, afirmou.

A atual coordenadora do Núcleo, Déborah Provetti, frisou que, ao longo dos dez anos, a atuação do Naufes esteve articulada em rede multidisciplinar integrada a todas as unidades acadêmicas e administrativas. Atualmente, informou, a Ufes tem 532 estudantes na graduação e 12 na pós-graduação com algum tipo de deficiência. O Naufes faz o acolhimento e acompanhamento desde o acesso, para garantir a permanência desses estudantes na Universidade.

Empregabilidade e orientação profissional

O último dia do Seminário, 1º de outubro, começou com a oficina Estratégias de acessibilidade no ensino superior para estudantes com deficiência intelectual e TEA. Já na última mesa do evento, o tema Empregabilidade e Orientação Profissional para Estudantes Universitários com Deficiência foi debatido pelo professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Leonardo Cabral e pela procuradora do Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo  (MPT-ES) Sueli Bessa, com a mediação da psicóloga do Naufes Wanessa Gonçalves e do estudante Marcello Vinícius Santanna. A sessão de encerramento foi conduzida pela Comissão Organizadora do Seminário.

Para a coordenadora Déborah Provetti, esse primeiro seminário trouxe reflexões pertinentes e apontamentos necessários sobre acessibilidade na educação superior. “Foram quatro dias de intenso compartilhamento de ideias, pesquisas e práticas. Tivemos excelentes expositores e exposições sobre todas as dimensões da acessibilidade, tais como: atitudinal, arquitetônica, metodológica, programática, instrumental, nos transportes, nas comunicações e digital. A participação significativa e a receptividade da comunidade interna e, também, externa, em todas as atividades propostas, sinalizam que, sem dúvida, o debate sobre acessibilidade e inclusão é cada vez maior e necessário. Para falarmos de forma adequada sobre acessibilidade em suas múltiplas dimensões, buscamos primar por um debate plural e comprometido com as mudanças necessárias para vencermos as barreiras impostas pelos estigmas, preconceitos e pré-conceitos. Este seminário foi o primeiro de muitos. Acessibilidade é compromisso de todos”, avaliou.

Todo o conteúdo do seminário está disponível no canal do Naufes no YouTube.

 

Texto: Sueli de Freitas
Edição: Thereza Marinho