Uma pesquisa desenvolvida pela Ufes em parceria com a Universidade de Barcelona avalia plantas da família Amaryllidaceae (foto) como fontes de novos compostos bioativos para combater a doença de Chagas e, para além disso, encontrar plantas com potencial para a produção em escala industrial de galantamina, composto utilizado no tratamento paliativo de Alzheimer. As amostras foram coletadas em diferentes regiões da Espanha em colaboração com pesquisadores da instituição de Barcelona, que lidera a pesquisa.
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A família de plantas Amaryllidaceae é amplamente encontrada, principalmente nos continentes europeu, africano e sul-americano. Dessa família de plantas é possível extrair compostos químicos que contêm nitrogênio, chamados de alcalóides. Até então, são cientificamente registrados mais de 600 alcalóides diferentes presentes nessas plantas. A extração desses compostos só é possível em laboratório, e é contraindicado o consumo das plantas in natura ou na forma de chás, devido à sua toxicidade.
“Esses compostos possuem atividades biológicas muito promissoras para o tratamento de doenças como o câncer, caso das narciclasinas, também como anti-inflamatório, caso da montanina, e existem outras pesquisas que avaliam os compostos no combate à doença de Chagas. Entre esses compostos bioativos, já se tem conhecimento da galantamina, que é utilizada como fármaco para o tratamento paliativo da doença de Alzheimer. Então, o que a gente vai fazer é estudar essas plantas, testar todos esses compostos já mapeados para saber se são úteis contra Chagas, e talvez descobrir novos compostos que possam ser utilizados no combate à doença”, explica o coordenador local da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação de Química da Ufes, Warley de Souza Borges.
Doença de Chagas
Intitulada de Recursos Naturais para o Tratamento da Doença de Chagas, a pesquisa pretende encontrar nas plantas da família Amaryllidaceae os compostos químicos com eficácia para inibir enzimas que são essenciais para a sobrevivência do protozoário que provoca a doença, o Trypanosoma cruzi. Ao inibir essas substâncias, pode-se, assim, matar o parasita.
O estudo deriva da dificuldade de tratar a doença, pois existem apenas dois medicamentos para combatê-la: benznidazol e nifurtimox. A ação efetiva desses remédios só ocorre quando utilizados nas fases iniciais da infecção, mas esse período não apresenta sintomas, tornando o combate ao parasita mais difícil. Na maioria dos casos, o diagnóstico ocorre na fase crônica, momento em que o quadro clínico se agrava.
“A pesquisa envolve um consórcio de universidades, e o papel da Ufes é na parte química, indispensável para o projeto. A descoberta de novos fármacos é algo muito complexo e envolve estudos que são muito caros, com variados testes clínicos. Por isso a cooperação internacional é tão importante”, detalha Borges.
Alzheimer
Paralelo à pesquisa envolvendo a doença de Chagas, Borges avalia as possibilidades para aprimorar o tratamento do Alzheimer. Sabe-se que a doença provoca a perda progressiva de neurônios, pois as placas beta-amilóides se agrupam e impedem a sinapse, processo de conexão e transmissão do sistema nervoso através da acetilcolina, neurotransmissor importante para a memória. O tratamento paliativo com a galantamina inibe justamente a enzima responsável pela degradação da acetilcolina na fenda sináptica. Isso permite a transmissão de impulsos nervosos e, consequentemente, retarda o avanço dos sintomas em casos iniciais.
O professor explica que, geralmente, a galantamina é extraída de uma planta do gênero Leucojum da família Amaryllidaceae, proveniente do leste europeu. Por ter um bulbo muito pequeno, se faz necessário uma alta quantidade de plantas para isolar a galantamina dos outros compostos em uma proporção industrial. “Por isso, espero encontrar, no decorrer da pesquisa, uma planta que apresente bulbos maiores e com altos índices de galantamina, viabilizando a produção comercial”.
A pesquisa conta com o apoio do Programa Institucional de Internacionalização da Ufes (PrInt-Ufes), da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e provém do projeto Renatec, que é financiado pelo Programa Ibero-Americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, o Cyted Espanhol, com um total de 22 países envolvidos.
Texto: Ghenis Carlos Silva (bolsista em projeto de Comunicação)
Foto: Acervo da pesquisa
Edição: Sueli de Freitas