O Laboratório de Deglutição e Voz (LaDVox) do Departamento de Fonoaudiologia da Ufes acaba de lançar uma cartilha digital para cuidados com a voz direcionada a professores. O documento foi idealizado pelo fonoaudiólogo e egresso do curso da Ufes Gabriel Depolli, orientado pela professora Michelle Guimarães, e contou com a parceria do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp - campus Marília). O guia é gratuito e pode ser acessado aqui.
O material passou a ser elaborado no segundo semestre de 2023 e contou com a participação da também professora do Departamento de Fonoaudiologia da Ufes Elma Azevedo; do professor da Unesp Felipe Moreti; e do estudante de graduação João Ricardo Ferreira Santos.
Ao longo das suas nove páginas, a cartilha orienta os docentes sobre o que é a fadiga vocal e os sintomas mais comuns, dá dicas de cuidado com a voz e propõe um teste para que os profissionais verifiquem sua probabilidade de ter distúrbios vocais.
Segundo a professora Guimarães, a ideia da cartilha surgiu para orientar os docentes a partir de uma linguagem clara e acessível. “Logo, após uma série de pesquisas que conduzimos com essa população, consideramos importante elaborar um material permanente e atual, que estivesse disponível gratuitamente e redigido em linguagem clara para que os professores se informem e consultem quando necessário”, explica.
Cansaço vocal
A fadiga vocal também é conhecida popularmente como “cansaço vocal” e, segundo a professora, “é uma percepção do indivíduo sobre a sua função fonatória, que se manifesta pelo esforço à fonação e geralmente está associada ao aumento da demanda vocal”.
Ainda de acordo com a pesquisadora, comportamentos negativos e abusivos em relação à voz podem favorecer o desenvolvimento de alterações na laringe.
Além disso, o que é chamado comumente de cansaço vocal também tem uma relação com a qualidade de vida dos professores, portanto, pode acarretar outros problemas para esses profissionais.
“O professor é naturalmente um comunicador, sendo a sua voz o seu principal instrumento de trabalho. Um problema de voz persistente e não acompanhado pode afastar ou limitar o professor de suas funções e outras atividades sociais. Logo, os distúrbios da voz podem afetar o professor econômica, mental, emocional e socialmente”, alerta Guimarães.
Uma das dicas que a cartilha propõe é que o professor controle o seu estresse. “Estudos mostram que participantes que relatam sintomas de estresse também relataram sintomas vocais de ocorrência mais frequente. Assim, existe uma ligação entre sintomas de estresse e sintomas vocais”, explica a professora.
“O estresse deve ser preferencialmente reconhecido como um fator de risco que contém e possivelmente acarreta uma série de sintomas fisiológicos, psicológicos e comportamentais que afetam negativamente a voz”, complementa.
Parceria
A parceria de pesquisadores e estudantes da Ufes com a Unesp, conforme destaca Guimarães, permite uma aprendizagem compartilhada “tanto em relação à produção de conhecimento quanto ao desenvolvimento profissional do grupo de pesquisadores e trocas entre estudantes que estão sob as nossas orientações”.
“O professor Felipe Moreti é um colaborador do LadVox-Ufes e, há alguns anos, temos uma parceria produtiva que gerou essa cartilha, assim como diversas publicações em revistas científicas renomadas na área da Fonoaudiologia, escrita de capítulo de livros, apresentação de trabalhos em congressos, entre outras produções. A parceria envolve o trabalho em grupo em um processo coletivo de colaboração”, ressalta.
Por mais que um professor não apresente sintomas de fadiga vocal, a orientação da professora Michelle Guimarães é que ele busque um profissional de fonoaudiologia para ter acesso a estratégias que facilitem sua habilidade comunicativa em sala de aula.
“Já o professor com queixa ou distúrbio vocal instalado precisará de um acompanhamento fonoaudiológico específico, de preferência envolvendo também o acompanhamento do médico otorrinolaringologista. Cada indivíduo tem sua particularidade e, portanto, todo o planejamento terapêutico envolvido deve ser único e direcionado”, conclui.
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